sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O Spread nosso de cada dia

O Spread bancário é a diferença entre a remuneração paga pelos bancos quando captam o dinheiro no mercado e as taxas de juros que cobram pelos empréstimos. Ou seja, quando você pega dinheiro emprestado, o banco te cobra um valor a título de juros, e quando você deixa seu dinheiro no banco ele te paga um valor. A diferença entre o que o Banco paga te o que ele te cobra é o spread bancário. Não preciso dizer que o valor que o Banco te cobra é muito maior.

Esse é o Spread, em inglês para melhor disfarçar como manda o economês, essa mágica de pagar pouco e cobrar muito que faz a alegria dos Bancos e propicia os recordes de lucratividade à custa de quem não vive da especulação. Nenhum investimento permite ganhar tanto, em prazo tão curto, com tanta liquidez e pouco ou nada de imposto.

Segundo estudo do instituto de estudos para o desenvolvimento industrial (IEDI), a média do spread embutido nas taxas de juros brasileiras foi de 34,88% em 2008, a maior do mundo e 11 vezes superior à média internacional

O Banco Central aponta uma média de 26,54 % em 2008, número também altíssimo. De dezembro de 2007 para dezembro de 2008 o spread subiu de 22,34% para 30,60% segundo o Banco Central.

Segundo pesquisa da Fiesp que abrangeu 42 países, donos de 90% do PIB mundial, e analisou o spread de cada país comparando-o com o PIB per capta, o spread médio brasileiro deveria estar em torno de 4%, e não os incríveis 26% apontados pelo Banco Central.

Isso só vem confirmar a lógica do capitalismo financeirizado. Mesmo a inclusão de um limite para os juros na Constituição não funcionou. Os Bancos só querem encher o bolso, cada vez mais, ainda que com recursos públicos.

Os Bancos culpam a tal crise financeira pelo aumento do Spread, em razão da redução da oferta de crédito e da expectativa de aumento da inadimplência.

A crise começou no sistema financeiro, e esse mesmo sistema não assume as responsabilidades repassando a conta para que os outros paguem.

O argumento dos Bancos de que a inadimplência aumenta os riscos e deve ser levada em conta no cálculo do spread não procede, pois as instituições exigem sempre garantias para os empréstimos, que muitas vezes são contrapartidas maiores do que o próprio valor emprestado. Aliás, o aumento da inadimplência foi provocado pelos próprios bancos que a realimentam aumentando o spread. E mais, entre setembro e dezembro de 2008 o aumento da inadimplência foi de 10%, enquanto que o spread aumentou 16%.

Os juros e spreads brasileiros são os maiores do mundo em um momento em que todos os países estão reduzindo juros.

O povo continua pagando a conta da crise, e os bancos lucrando mais e mais.





“A farra especulativa é essa sangria patrocinada pelo Banco Central e pelo Ministério da Fazenda há quase uma década e meia, promovendo a financeirização da economia, isto é, a hegemonia do capital financeiro, na sua modalidade especulativa, sobre o conjunto da economia, do Estado e da sociedade. Assim, o Estado gasta mais com o pagamento dos juros da dívida do que com saúde e educação ou com a Previdência Social, arrecadando do mundo da produção e transferindo para o mundo da especulação. Grandes empresas investem mais na esfera financeira do que na produtiva. Milhões de pessoas trabalham para pagar suas dívidas com os bancos. Essa é a financeirização, apoiada no spread, ou melhor, na farra especulativa. Uma pequena minoria ganha com a farra, a grande maioria e o país, perdem.” Emir Sader

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