terça-feira, 9 de março de 2010

Olimpíadas para todos! Sem remoção!

A mais recente luta da comunidade Vila Autódromo

“Olimpíadas para todos, sem remoção!”; “Apesar das ameaças, desejamos sucesso para as Olimpíadas”; “Esporte é vida, não estresse. Políticas Públicas já!”; “Veneza carioca para os ricos e despejo para os pobres”. As faixas colocadas em um pequeno campo de futebol, transformado provisoriamente em local para assembléias entre os moradores, movimentos sociais e representantes de diversas entidades, expressam o repúdio da comunidade Vila Autódromo ao projeto de remoção de centenas de famílias pobres para a construção no local de equipamentos para os jogos olímpicos de 2016.Não é a primeira vez que a comunidade precisa se mobilizar para evitar as tentativas de remoção involuntária. A primeira ocorreu em 1992, quando o Município do Rio de Janeiro alegou “dano estético eambiental” em ação judicial ajuizada no Tribunal do Rio de Janeiro requerendo a retirada total da comunidade. A Barra da Tijuca, então, despontava como nova centralidade para empreendimentos imobiliários, comerciais e esportivos, exigindo, como bem traduziu o procurador do município, uma nova“estética”, na qual os pobres não estavam incluídos.A comunidade, por sua vez, organizou-se e apresentou uma reação adequada à ofensiva municipal:em apenas dois anos, os moradores integraram um programa de regularização fundiária em que o poder público estadual, proprietário da gleba, reconheceu que o local era utilizado, há décadas, para a moradia. No mesmo passo, Vila Autódromo articulou sua defesa jurídica e impediu a remoção judicial das casas,demonstrando a fragilidade dos argumentos municipais em um litígio que até hoje se arrasta no Judiciário.

De Vila Autódromo, um olhar sobre a urbanização brasileira.

A situação vivenciada por Vila Autódromo não se distingue da história de muitas outras comunidades, favelas e bairros pobres das metrópoles brasileiras. Originalmente uma vila de pescadores, Vila Autódromo torna-se, nos anos 1970,uma oportunidade para a moradia de centenas de migrantes operários e trabalhadores informais que chegaram à região para a construção do autódromo de Jacarepaguá, do metrô e dos novos empreendimentos imobiliários que despontavam no local. Outras famílias foram ali assentadas em razão da remoção de outra comunidade, chamada Cardoso Fontes. Pescadores, operários precarizados, desempregados, trabalhadores informais, famílias removidas emigrantes formam a rede social que irá paulatinamente urbanizar e garantir as condições de vida na comunidade. O sistema utilizado é o denominado “mutirão”, pelo qual os moradores constroem não só suas casas, mas todo o espaço urbano, incluindo ruas, calçadas, rede de distribuição de água, sistema sanitário,creches, escolas e espaços de convívio, como o campo de futebol, a igreja e a sede da associação de moradores. Além de ser um espaço construído pelo trabalho contínuo dos moradores, Vila Autódromo aparece também como uma rede diversificada de trabalhadores da cidade: eletricistas, bombeiros, mecânicos, porteiros, pedreiros, costureiras, pequenos comerciantes, entre outros, realizam uma dinâmica prestação de serviços fundamentais para a vida urbana. O trabalho de construção da cidade se confunde, aqui, com asatividades prestadas para a cidade. Aquilo que é definido pejorativamente como o campo subterrâneo da informalidade (a cidade ilegal), é na verdade a vida e o trabalho diário, múltiplo e rico dos moradores de comunidades e favelas desprovidos de direitos.

Reconhecer a dimensão real dos direitos econômicos, sociais e culturais das comunidades pobres

Como afirmava o jurista espanhol Joaquin Herrera Flores (A reinvenção dos direitos humanos, 2009), os direitos humanos não são meras declarações formais ou abstratas, mas verdadeiros processos de luta ligados à vida, à liberdade e ao trabalho. Falar em direitos econômicos, sociais e culturais das comunidades pobres é exatamente reconhecer a dimensão material (e real!) da vida e do trabalho exercido por elas na cidade e para a cidade.Os processos de remoção involuntária raramente consideram a articulação concreta entre o exercício dos direitos e o espaço urbano. Das relações com o território surgem diferentes formas de trabalho, serviços prestados pelos autônomos e informais, redes de solidariedade social, contatos com os vizinhos, amizades para as crianças, convívios na escola, contatos com os profissionais de saúde, etc. O que para o poder público é um simples “reassentamento”, para as famílias é a uma mudança total nas formas de vida e de acesso, mesmo quando precário, aos direitos. Freqüentemente, alguns políticos, até os ditos progressistas, questionam o motivo pelo qual uma comunidade se recusa a ser realocada para casas construídas pelo poder público. Ora, a homogeneidade das construções, o espaço planificado e sem criatividade das casas e a ruptura das relações sociais com o território estão na origem da resistência dos moradores, inclusive os de Vila Autódromo.

A comunidade quer continuar onde está e receber investimentos públicos!

Ao invés de propor remoções custosas e indesejadas, o poder público deveria reconhecer e ampliar iniciativas criadas pelos próprios moradores, investindo em urbanização com participação e decisão popular,regularização fundiária (Cf. projeto do ITERJ para Vila Autódromo), assistência técnica gratuita, políticas de transferência e geração de renda, estímulo às redes sociais e culturais existentes, proteção do trabalhador informal e do pequeno comerciante, acesso à mobilidade urbana, a todos os serviços públicos e aos demaisdireitos da cidade.

A remoção de Vila Autódromo contraria os direitos fundamentais da cidade.

A remoção de Vila Autódromo ofende a legislação brasileira e a maioria dos princípios e compromissos internacionais adotados pelo Brasil sobre a efetivação dos direitos da cidade. Da Constituição Federal ao Estatuto da Cidade, da Agenda Habitat às observações gerais da ONU sobre o Tratado de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, passando pela Carta Mundial pelo Direito à Cidade elaborada pelos movimentos sociais, encontramos fundamento para um total repúdio ao tipo de “reassentamento” que se quer realizar em Vila Autódromo. Sumariamente e sem excluir outros argumentos, poderíamos apontar as seguintes razões: a)Violação da cláusula democrática e participativa. A comunidade em nenhum momento foi consultada sobre sua inclusão no projeto olímpico apresentado ao COI e soube pela “mídia” que deveria ser removida; b)Primado da regularização fundiária, do direito à moradia e da segurança da posse. A comunidade foi regularizada há quinze anos e hoje é objeto de outro programa estadual para atualizar e ampliar os títulos concedidos. A segurança da posse como elemento do direito à moradia é oponível ao município. Vale lembrar que dezenas de famílias já passaram por anterior processo de remoção e agora têm o direito de desfrutar de uma moradia segura e estável; c) Princípio da vedação ao retrocesso. Tendo sido objeto de política pública de promoção do direito social à moradia, o poder público não pode retroceder e fragilizar a proteção já alcançada de um direito social; d) Reassentamento como ultima ratio. As diretrizes internacionais afirmam que o reassentamento involuntário é medida extrema e deve ocorrer somente quando não há alternativa, não sendo o caso de Vila Autódromo; e) Garantia do devido processo legal. A remoção sob o argumento dos jogos olímpicos seria meio para, à margem do processo legal, atingir um objetivo hoje vedado pelo Poder Judiciário; f) Princípio da igualdade. De todo o seu entorno, incluindo os inúmeros empreendimentos imobiliários no local, a comunidade será a única a ser atingida pelo projeto olímpico. Porque somente a Vila Autódromo?

Por esses e outros motivos, a remoção de Vila Autódromo é ilegal do ponto de vista jurídico e inaceitável do ponto de vista político. Contra ela, todos os cidadãos, as comunidades pobres e movimentos sociais urbanos têm o direito de se insurgir e exigir do poder público o respeito aos direitos fundamentais da cidade. Participar da mais recente luta de Vila Autódromo é tarefa para aqueles que desejam, apesar das ameaças, “olimpíadas para todos, sem remoção!”.

ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DA VILA AUTÓDROMO

NÚCLEO DE TERRAS E HABITAÇÃO – DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DEJANEIRO

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Eh, ôô, vida de gado!!


Na última semana o Rio de Janeiro assistiu a uma série de atos de protesto contra as péssimas condições do sistema de transporte ferroviário. Após algumas paralisações e a falta de informação a respeito do que havia ocorrido, dezenas de pessoas quebraram e atearam fogo em vários vagões; cabines bancárias de auto-atendimento, bilheterias e roletas também foram alvo.

O governador do Estado, Sérgio Führer Cabral saiu em defesa da Companhia de trens (Supervia), e chegou a chamar o povo rebelde de bandidos e vagabundos, além de exigir, por óbvio, “a identificação, prisão e punição dos vândalos”.

Não podia ser outra a posição do governo em face da revolta popular. Sempre que o povo tenta demonstrar seu poder e exigir seus direitos acaba sendo coibido com violência. Foi o que se viu na Central do Brasil, por exemplo: Tropa de choque, balas de borracha, bombas de gás e cacetadas. Isso para o povo que eles mesmos, quando é do interesse, denominam de “trabalhador”.

O povo não se revoltou ‘apenas’ com os eventos ocorridos naqueles dias, ele se revoltou com toda a situação enfrentada a cada dia. Os trens, responsabilidade da Supervia (Concessionária de serviço público do Estado), estão em sua maioria em péssimo estado; a alta demanda e a pouca quantidade de vagões acarretam a superlotação (mais conhecida como lata de sardinha); e os preços não param de subir. Note-se que o serviço é público, mas foi privatizado pelo Estado.

Tudo tem que estar “dentro da normalidade”, pois o governo não pode se sentir pressionado. Certa vez, após uma revolta parecida ocorrida no terminal das Barcas que fazem o trajeto Rio-Niterói, a estação amanheceu tomada por seguranças e policiais. Para um amigo meu que presenciou a cena, parecia que eles esperavam uma revolução.

Eles até esperam, nós que não acreditamos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Muros nas favelas: entre a criminalização da pobreza e a miopia do ministro

Ítalo Pires Aguiar

Durante as décadas de oitenta e noventa do século XX, sob o signo da guerra ao tráfico de drogas, tem início no Rio de Janeiro o processo de militarização da política de segurança pública. Cabe lembrar que Nilo Batista descreve a política criminal de drogas no Brasil como “política criminal com derramamento de sangue” (BATISTA, 1997, p. 129).

Infelizmente, essa tragédia não é particular, pelo contrário, integra o fortalecimento do discurso de um Estado Penal em escala global, ou “globalitária” nos termos do saudoso geógrafo Milton Santos (2001).

Esse contexto é corroborado pelas representações lineares construídas pela mídia em torno do “mito das classes perigosas”, servindo como justificativa para o investimento massivo numa política cada vez mais coercitiva. Nessa perspectiva, o debate sobre o enfrentamento efetivo da questão social que atravessa nosso cotidiano é omitido, dando vazão a simulacros solucionais calcados na punição.

Atualmente, a representação mais densa de tal processo, ao menos no Estado do Rio de Janeiro, é a construção de muros entorno das favelas localizadas nas encostas das áreas nobres da zona sul carioca. Tal política é fruto de uma aliança entre o Prefeito Eduardo Paes e o Governador Sérgio Cabral, ambos do PMDB, e conta o incentivo político do governo federal (PT).

Ironicamente chamados de ecolimites, em alusão à proteção da mata atlântica próxima as comunidades, os muros são feitos de concreto e possuem três metros de altura. Assim, partindo de um pretexto ambiental, o muro permite um controle mais apurado sobre a parcela empobrecida da população. Essa situação fica latente quando paralela a construção dos muros é implantado um modelo de policiamento comunitário, que em nada se diferencia das esporádicas megaoperações e seus lastros fúnebres.

Como se já não bastasse a ausência de políticas públicas promotoras de cidadania, aqui entendidas “como a presença efetiva das condições sociais e institucionais que possibilitam ao conjunto dos cidadãos a participação ativa na formação do governo e, em conseqüência, no controle da vida social” (COUTINHO, 1997, p. 145), a segregação, o estigma e a vigilância apurada por esse tipo de política revelam o aprofundamento do que Nilo Batista chamou de cidadania negativa, em que os sujeitos só têm acesso ao estado através da sua face coercitiva.

A anuência do governo federal tanto em relação aos muros, quanto em relação à política de segurança, fica evidenciada nas reiteradas visitas do próprio Presidente Lula e/ou seus Ministros de Estado às comunidades muradas para promoção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do degenerado Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI).
A última visita ocorreu dia 17 de setembro no morro Dona Marta, tendo como protagonista o Ministro da Justiça e pré-candidato ao governo Estadual do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. O Ministro afirmou insistentemente que o a construção de concreto de três metros que cerca a favela é apenas um delimitador de espaço, e não um muro.

Esperamos que a miopia do Ministro não seja o subterfujo para a continuidade do processo de criminalização da miséria promovido pelas três esferas do poder executivo no Estado do Rio de Janeiro.

Referências bibliográficas:

BATISTA, Nilo. Política criminal com derramento de sangue. In: Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 20, 1997.

COUTINHO, Carlos Nelson. Notas sobre cidadania e modernidade”, In: Praia Vermelha - Estudos de Política e Teoria Social, Rio de Janeiro. v. 1, nº 1, ª sem. Rio de Janeiro: UFRJ/PPGESS, 1997.




quarta-feira, 16 de setembro de 2009

[República Tcheca] Repressão anti-squatter em Praga, centenas de pessoas são detidas

Uma ação pública de abertura de um squatter aconteceu neste sábado (12), em Praga, respondendo ao apelo de uma "Semana de Insurgência."


Desta forma, 300 pessoas, notadamente jovens, concentraram-se no ponto de encontro, por volta das 14 horas, de acordo com a convocatória. Após uma hora e meia de concentração, a manifestação seguiu em direção de um edifício abandonado, muito falado na mídia nestas últimas semanas, a propósito desta famosa jornada de luta que deveria ter, ao menos, permitido a abertura do squatter.


Mas este edifício não era mais do que uma cortina de fumaça, destinada a atrair a atenção da polícia. Enquanto isso, um grupo de vinte pessoas iniciou a ocupação de uma casa devoluta localizada no mesmo bairro, não muito longe da concentração. Quando a bandeira preta e vermelha foi colocada a flutuar no alto da casa, todos começaram a correr para o novo squatter.


Após um breve período de festa em frente da casa, durante a qual vários manifestantes entravam e saíam do imóvel por meio de uma corda, a polícia começou a atacar os manifestantes, tentando apanhar um encapuzado, (na tchecoslováquia é ilegal manifestar-se encapuzado). Arrastado duas vezes pelos policiais, e mesmo empregando técnicas de resistência coletiva "passiva", o companheiro acabou sendo preso à força e transportado numa viatura anti-motim.


A ação da polícia não parou por aí. Em seguida avançou sobre os manifestantes, usando táticas anti-motim, sem aviso prévio, enquanto os ocupantes tentavam manter a calma, pois ninguém pretendia o confronto com a polícia. Algumas pessoas ainda disseram à milicada que se tratava de uma manifestação pacífica, que seria uma resistência passiva.


Mas o ataque da polícia foi realmente brutal, o pior que se viveu em Praga desde as manifestações contra a cúpula do FMI, em 2000. Armas "normais" e telescópicas, gás lacrimogêneo, granadas ensurdecedoras... A maior parte dos manifestantes foram espancados e centenas de pessoas foram presas.


Enquanto isso, barricadas foram erguidas pelos manifestantes, mas a polícia conseguiu dispersar vários grupos e, finalmente, cercar completamente a casa. Todas as pessoas detidas junto a casa foram libertadas no mesmo dia, acusadas de contravenções. Vinte pessoas refugiaram-se no telhado do squatter e passaram lá toda a noite. Na manhã de domingo, entre 5 e 6 da manhã, a polícia entrou no squatter com uma motosserra e outros maquinários "pesados" (a casa foi muito bem barricada).


Mais de 20 pessoas foram presas na casa, colocadas diretamente em prisão preventiva com termo de residência durante o processo. Outras 24 pessoas vão a julgamento nesta segunda-feira (14), talvez haja outros julgamentos na terça-feira (15).


Todos e todas são acusados de "uso ilegal de um apartamento, um espaço habitado ou um não-residencial", podendo as sentenças chegar até dois anos de prisão. Entre os presos estavam pelo menos uma pessoa da Finlândia e um jornalista.


As ações de solidariedade são bem-vindas neste momento. Cabe a vocês e a nós gir. A solidariedade não é só palavra escrita!


Esta semana, em Praga, outro squatter deve ser ocupado. Sem baixar a guarda, a luta continua!


Fotos e vídeos da jornada de abertura da "Semana de Insurgência" e a
repressão policial:


• http://www.ct24.cz/gallerywindow.php?at_id=66608



http://tn.nova.cz/zpravy/regionalni/mlatili-nas-obusky-stezuje-si-zen...



http://tn.nova.cz/zpravy/regionalni/shrnuti-komando-vs-squateri-100-0...


Mais infos:


• http://sept09.squat.net/


• http://neprizpusobivi.fnf.cz/


*agência de notícias anarquistas-ana*

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Defensoria para quem?

Foi aprovado ontem pela CCJ do Senado o projeto de Lei Complementar n. 137 de 2009, que altera a Lei Orgânica da Defensoria Pública. A proposta já aprovada na Câmara e que agora vai a plenário no Senado constitui em um avanço para a Defensoria Pública, pois amplia suas funções e prerrogativas e a aproxima mais ainda da sociedade. A lei dá ainda, autonomia funcional administrativa e orçamentária à instituição.

Mas nem tudo são flores. A nota esquisita fica por conta da CONAMP (Associação Nacional dos Membros do Ministério Público) que esteve representada por simplesmente toda a sua direção durante a votação na CCJ, na tentativa de diminuir os avanços da Defensoria.

Os paladinos da justiça e da ordem jurídica brasileira são hoje os detentores do maior lobby no Congresso, e por conta disso conseguiram aprovar algumas emendas à proposta da Lei da Defensoria através do Senador petista Aloizio Mercadante; além disso, ontem mesmo eles deram uma passadinha pela Câmara e aprovaram os projetos de Lei n.º 5.921/09 e n.º 5922/09, que tratam da revisão dos subsídios dos membros do Ministério Público e da magistratura. Os índices de reajustes aprovados foram 5% a partir de 1º de setembro de 2009 e 3,88% a partir de 1º de fevereiro de 2010. Segundo o próprio site da CONAMP “Desde a apresentação das propostas, a CONAMP e as demais entidades nacionais representativas do MP e da magistratura têm mantido contato permanente com os líderes de todos os partidos políticos, para sensibilizá-los quanto à necessidade da aprovação dos Projetos de Lei.” Realmente um projeto de extrema necessidade para o Brasil, não é mesmo? Como se já não bastassem para os paladinos o alto salário e o plano de saúde pago com dinheiro público para toda a família.

A briga do MP com a Defensoria não é de hoje e extrapolou os limites judiciais. Se antes seu ápice se dava no juízo criminal, onde o Defensor luta pela liberdade do pobre frente ao Estado representado pelo Promotor, hoje a ‘disputa’ vai além e, temendo perder espaço político, o MP está cada dia mais voraz. Em 2007 a CONAMP propôs uma Ação direta de inconstitucionalidade do inciso II do artigo 5º da Lei nº 7.347/85, alterada pela Lei nº 11.448/07 junto ao STF (ADI 3943) para excluir a Defensoria do rol de legitimados para propor Ação Civil Pública. E você pergunta: O que o MP tem a ver com isso?

Talvez seja porque a Defensoria age bem, e age rápido. Basta ver a quantidade de Ações Civis Públicas importantes já propostas desde que sua competência foi firmada pela lei 11.448 de 2007. De lá pra cá podemos citar a ACP da Dengue, a ACP contra a OAB para que a entidade garanta a presença dos bacharéis que não possuem condições de pagar a inscrição no exame de Ordem, e agora as ACP,s da Gripe suína para garantir remédio para todos os necessitados e o afastamento temporário das servidoras gestantes dos Estados e das servidoras grávidas da administração federal.

A Defensoria continua se fortalecendo na luta pelos Direitos dos mais necessitados, ainda que muita gente prefira descumprir o mandamento constitucional. Você sabia que, passados 20 anos da promulgação da Constituição, ainda tem estado no Brasil sem Defensoria Pública? Nesses lugares o defensor dos pobres é um advogado indicado pelo Juiz e de sua confiança, pago pelo Poder judiciário. Dá pra acreditar?

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Visite Sonsorol!

1- Geografia e Descrição Física

A Ilha de Sonsorol, no Pacífico, um vulcão extinto cercado por recifes de coral, situa-se a 5o acima do Equador e a 132o de longitude, cerca de 650 km ao leste do extremo sudeste das Filipinas e 480 km ao norte do Estreito de Dampier na Nova Guiné. Ela possui aproximadamente 16 quilômetros de diâmetro e uma área de cerca de 145 km2.

De forma quase circular, e sem nenhuma baía ou braço de mar decente, Sonsorol pareceria a princípio estrategicamente inadequada para a sua antiga função de encravamento pirata; contudo, os recifes de coral que cercam a ilha formam uma espécie de lagoa, na qual os navios podem ficar ancorados com bastante segurança, mesmo com mau tempo.

2- Como Chegar Lá

Viajar no Pacífico normalmente consume muito tempo ou muito dinheiro. Sonsorol continua sendo uma das ilhas menos acessíveis em toda a área. Nenhuma linha aérea comercial pousa lá. Navios cargueiros levam cargas para Sonsorol, de Mindanao, Java, Taiwan, Hong Kong e outros portos, mas o único navio que faz escala ali com alguma regularidade é o The Queen of Yap, um navio a vapor enferrujado e sem rota, que navega entre Zamboanga e as Ilhas Caroline aproximadamente uma vez por mês. (Informações e reservas podem ser obtidas com a Ngulu Maritime Co. Ltda, Kalabat, Yap, U.S. Trust Territory do Pacífico.)

Port Watson é hoje o único porto de entrada para Sonsorol, e não existe ali nenhuma Autoridade de Alfândega & Imigração. No entanto, ninguém deve esperar passar despercebido em uma cidade tão pequena. Qualquer um que fique mais de um mês provavelmente será solicitado com educação a requerer residência ou então ir embora (ver Como se Tornar um Morador).

Visitantes na República de Sonsorol (do lado de fora do Encravamento Port Watson) são incentivados a carimbar seu passaporte na Agência dos Correios na Sede do Governo na cidade de Sonsorol (ver) — o carimbo de visto é muito bonito— mas ninguém irá insistir nisso. Nem Port Watson, nem a República possuem polícia, portanto os moradores tendem a ficar atentos para problemas e se responsabilizam a solucioná-los. Visitantes hostis, insultuosos ou estrepitosos costumam apanhar de membros do comitê de vigilância ou da Milícia do Povo, e são banidos no próximo navio de partida. Geralmente, no entanto, os visitantes são bem vindos ("não turistas, mas visitantes", disse uma vez o Sultão), e os habitantes são amigáveis, até em excesso.

3- História Antes da Independência

Os habitantes "aboriginais", de ancestrais malaios e polinésios miscigenados, podem não ter chegado antes do século XIV; se eles encontraram e absorveram algum grupo mais antigo, não se sabe. Presume-se que esses povos eram "pagãos" de algum tipo; indícios de sua língua sobrevivem em nomes de lugares, terminologia das artes e ofícios, etc., ainda que o atual dialeto consista em uma mistura perturbadora de linguagem indonésia, sulauês, espanhol, holandês e inglês. (Aparentemente, teatro e poesia interessantes estão hoje sendo compostos no "idioma" sonsoroleano). Tudo o que resta do período "pré-histórico" ou pré-Moro é uma enigmática ruína perto do topo de uma cachoeira na subida do Monte Sonsorol (ver Excursões).

Em meados do século XVII, Sonsorol foi invadida por piratas de Sulu, que se auto denominavam Moros ("Mouros", isto é, muçulmanos) apesar de suas tripulações incluírem diaques (1) do mar, bugis (2) das ilhas Célebes, javaneses e outras figuras do leste asiático. Seu almirante semilendário, o sultão Ilanun Moro, estabeleceu-se com alguns de seus seguidores — os quais formaram assim uma "aristocracia" insulana medíocre.
O islamismo foi adaptado de forma bastante branda pelos Moros de Sonsorol: eles ignoravam a rigidez da Lei Divina eles ignoravam e o analfabetismo os mantinha na ignorantes sobre o Alcorão. Como beduínos do mar, a religião servia a eles como uma nova identidade étnica e um pretexto para pilhar suas vítimas "infiéis".

Tendo Sonsorol como base, eles continuaram sua predação e ficaram razoavelmente ricos — e finalmente adquiriram uma pitada de cultura. No final do século XVIII e começo do XIX o critério dos javaneses prevaleceu e sufis indonésios visitaram a ilha.

Infelizmente nenhum vestígio arquitetural desta "Época de Ouro" sobreviveu à invasão e à conquista pela forças espanholas sob o comando do governador das Filipinas, Narciso Clavería y Zaldua, em 1850. Os sultãos de Sonsorol foram praticamente os últimos dos piratas Moros a serem dominados e os conquistadores impuseram-lhes um regime colonial destrutivo e predatório, incluindo conversão religiosa forçada e completa escravidão.
Em 1867, porém, os espanhóis já haviam perdido o interesse pela ilha , o que não produzia nada além de copra e desgosto. Os governadores holandeses da Indonésia anexaram Sonsorol ao seu império após uma única batalha superficial. Os nativos consideravam os holandeses um avanço em relação os odiados espanhóis, e a princípio apresentaram poucas objeções — na verdade, muitos se converteram para a Igreja Reformada Holandesa.

A influência holandesa ainda é forte em Sonsorol. Quase não há famílias na ilha que não tenham sangue europeu. Palavras holandesas sobrevivem no dialeto. O Antigo Bairro da cidade de Sonsorol (ver) se orgulham das diversas casas modestas, porém agradáveis no estilo "batavo", com fachadas levantadas e telhados vermelhos. Uma visita à "Catedral" Calvinista e a pequena Sede do Governo também valem a visita.

Neste período a "aristocracia" Moro (aqueles que seguiam sua descendência dos piratas) retrocedeu a seu tipo de islamismo brando. Aos sultões foram conferidos "títulos de cortesia", mas eles permaneceram sem poder e sem dinheiro. A cultura javanesa moldava as suas atitudes, especialmente as artes da música gamelan (3) e da dança, os ensinamentos esotéricos das seitas kebatinans (incluindo artes marciais e bruxaria), e o conceito milenar do "Rei Justo". Fora desta efervescência —uma estranha mistura de proto-nacionalismo revolucionário e fervor místico —o ressentimento para com os holandeses começou a se inflamar.

Em 1907 (o mesmo ano em que os Países Baixos finalmente conquistaram o norte de Sumatra), o sultão de Sonsorol, Pak Harjanto Abdul Rahman Moro I, encenou um trágico e fútil levante contra as forças coloniais. Diz-se que seus seguidores acreditavam ser magicamente invulneráveis a balas. O sultão e outros conspiradores foram executados, o título abolido, e a ilha afundou em depressão, sonolência, indiferença e obscuridade.

No início da Segunda Guerra Mundial, a população de Sonsorol havia caído para cerca de 2000 pessoas, com administração e guarnições militares holandesas que não passavam de cinqüenta pessoas. Em 1942, os japoneses fizeram uma conquista fácil da ilha, mamdando europeus para campos de prisão em Java, construindo algumas casamatas (ainda existentes), deixaram para trás uma força simbólica e partiram para a invasão da Malásia.

Os novos chefes supremos japoneses comportavam-se de maneira severa, quase sádica — se é que se pode dar crédito às histórias ainda contadas em Sonsorol — e um sentimento antinipônico sobrevive até hoje. Em 1945, um único navio tripulado por forças navais neozelandesas e australianas chegou para liberar a ilha. Os japoneses panejaram uma resistência suicida, e a população nativa, liderada pelo sultão Pak Harjanto III (neto do mártir de 1907) — juntou-se a batalha pela liberdade no dia 20 de julho.

O período pós-guerra encontrou Sonsorol com novos mestres coloniais: um Protetorado Misto sob o comando da Austrália e da Nova Zelândia. Uma queda no preço da copra arruinou os últimos resquícios de economia. A emigração aumentou, e em 1952 a população havia caído para menos de mil. O Protetorado, sobrecarregado pela administração de outras ilhas do Pacífico, ignorou Sonsorol, exceto como uma fonte de mão-de-obra barata.

O sultão, herói da libertação, começou a agitar para a independência. Sincero admirador da democracia ocidental, ele acreditava que a liberdade política iria, de alguma forma, resolver os problemas da ilha. Em 1962 o Protetorado permitiu um plebiscito e a maioria expressiva escolheu independência sob uma Monarquia Constitucional. No dia 17 de agosto daquele ano, o Protetorado Misto retirou-se.

4- História Desde a Independência

Os benefícios esperados da liberdade fracassaram em materializar-se. A emigração foi interrompida. Apenas um auxílio escasso e relutante dos governos do antigo Protetorado evitava que a população ficasse completamente à míngua. Em 1967, o sultão enviou o seu jovem filho e herdeiro, Pak Harjanto Abdul-Rahman IV, para a faculdade nos Estados Unidos, com a vaga esperança de que isso resultasse de alguma forma em uma infusão de ajuda norte-americana. O Príncipe Herdeiro obteve uma bolsa de estudos na Universidade de Berkeley, e se formou em economia.

Na California, o Príncipe se sentiu atraído pelo "Movimento"— direitos civis, anti-guerra, liberdade de expressão, consciência ecológica, Haight-Ashbury (4), etc. — e logo se viu convencido pela filosofia anarquista libertária. Na faculdade, conheceu Travis B. O’Conner, descendente e herdeiro de uma família do ramo do petróleo de Oklahoma/Texas (não eram super-ricos, mas definitivamente milionários). Eles trancaram a matrícula por um ano e aproveitaram/apreciaram juntos um Wanderjahr (5) americano. O Príncipe nunca perdeu o senso de responsabilidade em relação à sua terra-natal: todo o seu pensamento e estudo visavam a salvação do seu povo, ou pelo menos o alívio. O’Conner ficou fascinado com as histórias de Sonsorol, e juntos os jovens amigos maquinavam e sonhavam.

Eles raciocinavam da seguinte forma: quase todas as utopias clássicas — da República de Platão à Fazenda Brook (6) — envolvem um alto grau de abstração. A implementação de idéias abstratas na sociedade requer um correspondente alto nível de controle autoritário. Como resultado, a maioria das utopias em prática se revelaram opressivas e paralisantes — "planejamento social" pareceria uma ofensa por definição contra o "espírito humano". O’Conner e o sultão desejavam uma utopia anarquista, sem autoridade — e mesmo assim eles perceberam que a utopia é impossível sem a abstração.

A maior e mais opressiva de todas as abstrações modernas é a finança, o negócio bancário, a criação de riqueza a partir do nada, da pura imaginação. Ora, os piratas de antigamente viviam praticamente sem autoridade — até mesmo os seus capitães eram praticamente os primeiros dentro de um grupo de iguais — e eles criaram "utopias" sem lei ou enclaves financiados por riquezas roubadas. Os dois jovens amigos decidiram que, uma vez que Sonsorol não poderia nunca produzir nenhuma riqueza de verdade, eles deveriam seguir o procedimento dos piratas — reconhecidamente o caminho dos parasitas e bandidos, e não dos "verdadeiros revolucionários" — e roubar a energia que precisavam para financiar e fundar a sua utopia. O ladrão de banco rouba bancos "porque é ali que está o dinheiro"— mas o banqueiro rouba bancos e até os seus próprios depositantes com total impunidade legal. Os sonhadores da Califórnia decidiram entrar nos negócios bancários.

Em 1979, o velho sultão morreu e o seu filho o sucedeu no trono de uma ilha esquecida e arruinada. De imediato, ele e O’Conner começaram a pôr seu plano em prática. Começaram com a criação de um banco mercantil chamado "A Associação de Poupança e Empréstimos Ilanun Moro" (ironicamente batizado com o nome do pirata fundador da dinastia). O novo sultão então deu andamento a uma série de projetos de lei através da legislação da ilha: ele possibilitou a criação de um enclave de porto livre, Port Watson (a origem do nome nunca foi explicada), que consistia em dez quilômetros quadrados de plantações de copra abandonadas. O Banco, utilizando-se das relações e do capital da família O’Conner, mudou-se para Port Watson e deu início às operações com proteção de regulamentação fiscal: subsidiárias fantasmas, registros livres de impostos, "intermediários" e "gráficos estranhos", especulação da moeda, atividade secreta intermediária para sociedades chinesas em terra, lavagem de fundos para certos "homens de negócio" chineses transoceânicos , contas numeradas, e assim por diante. Port Watson foi planejado para usufruir de uma liberdade quase total da lei; o banco praticando uma forma nova e invisível de pirataria. Uma vez que, para a sua eficácia, ela depende das comunicações via satélite, ela poderia talvez ser chamada de Pirataria Espacial!

O Banco de Sonsorol possui poucos bens "reais", poucos que possam ser saqueados — sua riqueza existe em grande parte em memórias de computador. Suas maquinações discretas são toleradas por interesses bancários internacionais; afinal de contas, uma conta "cega" ou algo do tipo mostra-se útil, de tempos em tempos, até mesmo nos círculos financeiros mais respeitáveis. Quase da noite para o dia (1976-1980) Sonsorol se tornou moderadamente próspera.

Todo cidadão de Sonsorol e morador de Port Watson, criança, mulher e homem, tornou-se um acionista eqüitativo no Banco; todos— inclusive o sultão e O’Conner — possuem exatamente uma ação dos lucros. Em 1980, cerca de mil pessoas em Port Watson e 2000 em Sonsorol, recebiam, cada uma, um dividendo anual de cerca de US$ 4.000. Em 1985, a população total chegou a 9000 e o dividendo um pouco mais de US$ 5000 — praticamente uma renda garantida.

Além da criação de Port Watson e do Banco, muito poucas mudanças foram feitas na estrutura legal de Sonsorol, a qual continua sendo (ao menos no papel) uma república de estilo anglo-americano com legislação, exército, polícia, educação compulsória, impostos e assim por diante. Nenhum poder estrangeiro pode acusar a ilha de "anarquia"— e em todo caso, o Governo Trabalhista da Nova Zelândia assinou recentemente um tratado de defesa que oferece proteção e reconhecimento internacional para a república. Na superfície, tudo está normal. A Constituição foi reformada para separar a Igreja Reformada Holandesa do Estado e permitir a liberdade de credo (1976), e em 1979 o sultão abdicou de todas as funções executivas e se reduziu a uma figura cerimonial. Como ele colocou, "eu alcancei o estado do Rei-Sábio taoísta descrito no Chuand Tzu: Eu me sento em meu trono voltado para uma direção propícia — e não faço absolutamente nada!"

Na prática, no entanto, as funções da República caíram quase totalmente em desuso. Nenhum exército ou polícia existe porque ninguém se alista neles. Em vez disso, uma Milícia do Povo voluntária trabalha em emergências (extremamente raras até hoje). Impostos não são coletados, leis morais não são executadas. A legislação não aprova mais nenhuma lei nova (embora se reuna de tempos em tempos para debater projetos e questões filosóficas). As escolas existem, mas a freqüência é voluntária. Ninguém precisa trabalhar, e muitos consideram a sua cota de ação suficiente para sustentar vidas de polinésio dolce far niente. Qualquer pessoa que tenha objeções quanto à "monarquia minarquista" da República pode se mudar para Port Watson, onde não existe absolutamente nenhuma lei.

O "verdadeiro trabalho" de Sonsorol, negócios bancários, pode ser conduzido por um punhado de hackers de computadores e negociantes astutos (apelidados de "Sindonistas"). Contudo, o sultão e O’Conner queriam ver Port Watson se tornar uma comunidade libertária genuína, e estimularam a imigração oferecendo empréstimos sem juros e até mesmo subvenções integrais a pessoas prestativas e solidárias. Diversas organizações coletivistas importantes foram fundadas: o Centro de Energia (ver), uma cooperativa para energia alternativa, tecnologia apropriada e agricultura experimental; e as Academias (ver), voltadas para educação e pesquisa — escolas para crianças, e filosofia "natural" de todos os tipos para estudantes avançados.

Pequenos empresários, a maioria chineses, também foram convidados a abrirem lojas. Enérgicos e econômicos, eles expandiram as suas ações em pequenos negócios e hoje dominam diversos aspectos da vida comercial de Port Watson. Centenas de libertários e anarquistas da Europa e das Américas afluíram para Sonsorol, cada um com algum experimento de vida, culto da Nova Era, comunidade utópica, artesanato, arte ou projeto de estimação. Alguns Sonsorolanos que haviam migrado para a Nova Zelândia nas décadas de 1940 e 1950 voltaram para reivindicar as suas Ações de Cidadãos. A ilha ficou viva — mais uma vez — graças à "pirataria"!

Em Port Watson, todos os negócios e, de fato, todas as relações humanas são executados através de contratos. Não existem órgão de regulamentação para interferir em acordos feitos entre "parceiros em consenso", seja na cama ou em um negócio bancário. Os contratos podem ser testemunhados por uma empresa de arbitragem independente. Reclamações contra grupos ou indivíduos são julgados por um "Sínodo Aleatório" — um comitê de Acionistas ad hoc escolhido por computador. Este Sínodo não possui nenhum poder de coerção. Na teoria, um "réu" que recusasse as recomendações do Conselho ficaria livre e o queixoso não teria nenhum recurso senão o duelo ou a vingança. Na prática, porém, isso só ocorreu uma ou duas vezes. Pede-se aos novos colonizadores em Port Watson apenas para concordar em viver de acordo com este anti-sistema, para doarem um dia por mês para projetos comunitários (conhecidos como "trabalho de merda") e para absterem-se de comportamentos coercivos ou opressivos. Este acordo é chamado de "assinar os Artigos", de acordo com o velho costume entre os bucaneiros e corsários. De fato, a forma de "governo" de Port Watson poderia ser chamada de Pacto de Piratas — ou talvez comunismo laissez-faire — ou anarco-monarquia (uma vez que cada ser humano é considerado um "senhor livre" ou agente soberano).

A terra só é "possuída" quando é ocupada e usada. Uma comunidade típica pode consistir de uma única construção, sem terreno, com três ou quatro membros (talvez até um "núcleo familiar"!); ou uma cooperativa do tamanho de uma fazenda com 12 a 25 membros e várias casas. A independência econômica torna a vida solitária praticável, mas um grupo pode juntar recursos, permitir-se uma moradia melhor e dividir luxos. Quase todas as pessoas pertencem a alguma forma de cooperativa, associação ou irmandade, desde um clube de jantar informal, até comunidades de utopias ideológicas rigorosas (a maioria nas montanhas ou fora da cidade). "Falanstérios" ou grupos de afinidade erótica são bastante comuns, assim como corporações de artesanato e cultos esotéricos (ver Atividades Culturais/Espirituais).

5- Dinheiro (Um Lembrete para o Viajante)

"Sem pilhagem não há pagamento!" e "A cada um de acordo com a recompensa, de cada um de acordo com o seu capricho!" — esses poderiam ser os lemas de Port Watson. Até mesmo a República de Sonsorol não possui moeda própria (embora venda adoráveis selos postais). Para pequenas transações, como pagar uma refeição ou jornal, qualquer moeda serve em teoria, ainda que na prática a libra neozelandesa ou o dólar norte americano sejam preferidos. Transações maiores geralmente são executadas por computador, uma vez que todos os Acionistas têm uma "conta" que pode ser usada. Os visitantes podem achar conveniente depositar parte de seus fundos no Banco, em uma conta "fixa "ou "móvel". A primeira é simplesmente um cofre eletrônico. Uma conta "móvel" constitui um investimento real no Banco. Em fevereiro de 1985, tais contas pagavam 7,5% de juros, e em março 12%. Viajantes moderados podem na verdade sair de Sonsorol mais ricos do que quando chegaram!

Os moradores da ilha elaboraram um escambo bem organizado entre eles. Uma organização de artesanato que produz batique (7), por exemplo, irá transferir a sua mercadoria para a Cooperativa de Port Watson (chamada "As 5 & 10" por brincalhões locais) em troca de um determinado crédito, medido em uma quantidade quanta abstrata. Os membros da organização podem então usar o seu crédito em relação a qualquer produto da Cooperativa. Tanto a Cooperativa quanto diversos mercadores chineses independentes atuam como agentes de importação e exportação, preenchendo pedidos de mercadorias estrangeiras e artigos de luxo em troca de crédito do Banco ou da Cooperativa. Não há controle de preços e o valor dos produtos locais é determinado por computador, mas importações e mercadorias vendidas fora do sistema da Cooperativa estão sujeitos a intensa negociação, característico das compras em bazares orientais. Visitantes ingênuos foram algumas vezes enganados por watsonianos espertos. Caveat emptor (8).

Muitos grupos dentro do enclave do porto são ávidos para estabelecer trocas e comunicações com canais alternativos em outros lugares do mundo. Sempre que possível, Sonsorol procura evitar o comércio oficial internacional com todas as suas tarifas, impostos e regulamentações, e, em vez disso, contar com os contatos com comunidades, cooperativas, bolos, grupos e indivíduos artesãos não-comerciais e não-governamentais ao redor do mundo — especialmente aqueles que compartilham a perspectiva libertária-anarquista. Visitantes em Sonsorol são particularmente bem vindos quando oferecem algum contato com o "mundo externo", tais como "potlatch" (9) (troca de presentes), escambo, contato cultural, troca de hospitalidade, etc.

Os Acionistas são livres para fazerem o que quer que queiram com os seus dividendos, e para entregarem-se qualquer tipo de negócio que os agrade e que não envolva nenhuma coerção, escravidão de salário ou ganância voraz. No entanto, fora da comunidade da ilha (e da rede crescente de contatos "alternativos" mundiais) essas restrições desaparecem. Como os seus predecessores piratas, os Sonsoroleanos estão "em guerra com o mundo todo" no que diz respeito a aproveitar algumas vantagens comerciais e fiscais. Por causa disso, muitos watsonianos enriqueceram consideravelmente — especialmente os Banqueiros e os comerciantes chineses. Qualquer exibição de riqueza excessiva é considerada de mau gosto, até mesmo "opressiva" — o espicurismo gastronômico e a indulgência estética têm aprovação social, mas diz-se que o "watsoniano típico" é um milionário que vive como um vagabundo de praia, um ermitão taoísta ou um artista, e faz grandes doações a várias causas beneficentes e revolucionárias radicais pelo mundo afora. Os moradores da ilha gostam de citar o dito espirituoso de Emma Goldman sobre a "revolução champanhe" e o comentário de Nietzsche sobre o "aristocracismo radical". O dinheiro, no final das contas, significa muito pouco aqui (exceto como um jogo). A verdadeira balança de valores é baseada no prazer, na auto-realização e na intensificação da vida.

6- Fazendo Turismo em Port Watson

Port Watson surgiu rápido e tem o ar de uma cidade da corrida para o ouro, apesar de seu langor tropical. Sua arquitetura parece excêntrica, e "planejamento urbano" é considerado palavrão. Todos constróem onde e o que querem, de cabanas de palha a um ferro velho, cúpulas geodésicas ou um quonset, pré-fabricado ou tradicional, de estética personalizada ou funcionalidade feia. A maioria das ruas não é asfaltada, e carros são raros — embora algumas centenas de "bicicletas de graça" (pintadas de branco) (10) fiquem paradas para qualquer um que necessite delas.

Diz-se que a população do enclave é de cerca de 2000 pessoas, embora nenhum censo tenha sido feito. Talvez a metade seja de sonsorolanos nativos. A outra metade consiste em pessoas de muitas nacionalidades, a maior porcentagem provavelmente de norte-americanos — e então chineses, australianos e neozelandeses, europeus (britânicos, franceses, alemães, etc.), escandinavos, sul-americanos, alguns filipinos, javaneses e outros do sudeste asiático dispersos; e indivíduos de lugares tão improváveis como Irã, Egito e África do Sul. A maioria dos "colonizadores" vieram trabalhar no Banco ou um dos outros negócios de Port Watson, ainda que um número significativo tenha apenas "passado por acaso e decidido ficar". Estilos de vida variam da vagabundagem praiana Gaugin ao jet-set internacional (os representantes nômades do Banco), mas a maioria fica em algum lugar entre esses dois extremos.

Importante: o viajante deve ter sempre em mente que Port Watson se diferencia do resto do mundo em um aspecto principal: a falta de qualquer lei. Alguns watsonianos gostam de descrever sua cidade como um cruzamento entre O Coração das Trevas (11) e a cidade de Tombstone (12) — existem especulações sobre duelos e feudos, histórias sobre "pequenas guerras" entre comunidades, etc. — mas na verdade esses incidentes são muito raros, possivelmente até falsos. No entanto, os recém chegados devem ter consciência de que não existe nenhuma autoridade para safar ninguém do perigo ou de dificuldades. Até mesmo os watsonianos assumem a responsabilidade total por ações pessoais. O visitante deve por bem ou por mal seguir o exemplo.

A teoria libertária prediz que tal sistema — ou falta de sistema! — leva a mais paz e harmonia do que a violência e desordem, desde que todos os indivíduos tenham bem-estar e concordem em não coagir ou oprimir outro ser humano. Na prática a teoria parece funcionar — afinal de contas, Port Watson é realmente uma cidade pequena em uma ilha pequena, uma "ecologia social" que reforça a cooperação e até mesmo a conformidade. Por todo o seu ruído anarquista, a maioria dos watsonianos está muito contente para querer causar problemas — mas se um visitante deixa de compreender o "código não escrito" ou a correta educação sossegada, bem poderá sofrer conseqüências desagradáveis.

O cais fervilha de atividades: barcaças retirando a carga de algum navio a vapor sem rota ancorado na lagoa, barcos de pesca chegando e saindo, suas tripulações pechinchando com os representantes da Cooperativa sobre seu presa furta-cor, crianças brincando e nadando, os preguiçosos bebendo café no famoso Cannibal Café. Atrás do cais passa a rua Godown, com esse nome devido à sua fileira de armazéns feios ou "godowns" (13). Aqui também se encontram vários postos marítimos, vendedores e construtores de barcos (paraus, juncos e canoas de regato) — e diversas boates e bares que abrem quando o sol se põe (ver Vida Noturna).

Do outro lado da rua Godown fica a rua China, o lar da comunidade chinesa de Port Watson. Lojas térreas velhas com fachadas de ferro onduladas e placas brilhantes escritas à mão. A única hospedaria da ilha, o Hotel White Flower, e vários restaurantes chineses excelentes (ver Onde Ficar e Comer). Pequenos templos chineses do tipo que são vistos por toda parte no sudeste da Ásia, pilares barrocos de concreto, dragões e fênix pré-fabricados e pintados de forma espalhfatosa retorcendo-se sobre um telhado inclinado, com fumaça de incenso subindo de um altar dourado e carmesim...: O Templo Taoísta da Estrela Polar do Sul. A maioria dos chineses watsonianos são taoístas ou budistas Chán, e o tai chi virou moda por toda a ilha.

Ao longo da praia a oeste da rua China uma área chamada de "A Favela" se expande sobre a areia ensolarada —gêmea dos guetos pós-hippies de "viajantes econômicos" de Goa e Bali. Choupanas de palha e pequenos bangalôs improvisados, algumas lojas de artesanato, casas de chá e restaurantes, uma população de ratos de praia e comedores de lótus (14): os pobres por vontade própria de Port Watson. Aqui também se encontra a famosa "Drogaria" da cidade, cuja explicação detalhada seria imprudente, mas você entendeu.

A leste do cais, cerca de quinhentos metros pela estrada que leva à cidade de Sonsorol, fica o fabuloso Centro de Energia, sem dúvida o complexo mais feio da ilha. Seu trabalho pode ser benéfico para o meio ambiente, mas ele parece um trecho da rodovia expressa de Nova Jersey transportado em pedaços para os trópicos e remontado por um louco. Barreiras de torres desajeitadas e moinhos de vento experimentais (como algo saído da Guerra dos Mundos!), barreiras coletoras de luz solar pretas e sinistras, geradores enormes e desajeitados produzindo energia a partir da maré, das ondas e do vento. Fileiras de estufas hidropônicas de plástico montadas às pressas, ateliês e oficinas, ferraria, Garagem & Centro de Bricolagem — tudo planejado como um Conjunto Eretor construído sob o efeito de ácido. Os simpáticos técnicos Nova-Alquimia-da-Terra-Sadia do Coletivo Energético adoram toda essa maquinaria, sujeira, ruído e inventividade. Dizem que o Banco pode pagar as contas, mas talvez não para sempre. Enquanto isso, o Centro de Energia é o coração vivo de Port Watson.

Mas o Banco tem que levar o prêmio da arquitetura mais absurda da ilha. Construído por uma equipe de designers neo-futuristas italianos, ele já está caindo aos pedaços. Mas todos apreciam a sua extravagância e ousadia, então os banqueiros resmungam, mas gastam para mantê-lo de pé e funcionando. Com um formato que parece o cruzamento entre uma pirâmide egípcia e maia, meio amassada, sete andares, todo de vidro refletor preto e aço inoxidável (agora parecendo bastante enferrujado, depois de quatro temporadas de tufão) — o conceito total é tão ultra-pós-moderno que se assemelha à Ópera Cômica (ou Ópera Espacial!)... e ainda assim, suas formas refletem o vulcão extinto que forma a massa da ilha, suas cores refletem a areia preta e a sua ferrugem se harmoniza com o calor tropical... e depois do primeiro choque e da gargalhada, fica-se um pouco sob o seu fascínio! Um BANCO! Caído no meio desta ilha, com o formato do símbolo do Illuminatus numa nota de dólar (só que sem o olho) — pesado, denso e tão luminoso como vítreo.

Do lado de dentro, o Banco é dividido exatamente na metade. Uma metade permanece aberta, um "espaço catedral" sem divisões, uma enorme estufa, palácio de cristal botânico ou arboreto, rouco com pássaros soltos e plantas tropicais — escadarias e rampas levam a galerias e jardins suspensos — tubos de vidro com escadas rolantes dentro (como o aeroporto de Gaulle em Paris) riscam o espaço vasto, dando ao "saguão" uma atmosfera meio Montes Pirineus, meio Buck Rogers (15) — fontes esguicham no nível do solo ou caem em cascatas — e os watsonianos vêm aqui para piqueniques ou para foderem nas folhagens.

A outra metade do Banco é o Banco Sultão Ilanun Moro propriamente dito, um labirinto de escritórios, salas de computadores, cofres (onde dizem não haver quase nada de valor), alojamento para os banqueiros (que geralmente são hackers libertários e visionários anarco-capitalistas), todo ultra-moderno e com ar condicionado, futurologista e austero. O Banco mantém uma antena parabólica próxima ao pico do Monte Sonsorol, e os computadores têm equipes 24 horas por dia para receber notícias financeiras e políticas. Alguns moradores da ilha que não são membros da Cooperativa do Banco aproveitam, no entanto, para fazerem apostas em jogos financeiros internacionais: especulação e jogatina são esportes populares.

O Banco também funciona como um centro comunitário: uma gráfica, uma clínica médica (chamada, por algum motivo, de "Imortalidade Inc.), um refeitório popular, uma biblioteca de fitas e discos e outras instalações estão abertas ao público.

Entre a rua China e o Banco fica o Bazar, um centro comercial amplo e aberto (quente e empoeirado) cercado de mais lojas de ferro ondulado e lojas-choupanas de palha, além de um grande prédio, não muito diferente de um supermercado ou shopping. Tudo isso junto constitui o grande Centro Cooperativo dos Povos de Port Watson, o mercado de trocas, a butique de importação e exportação, empório de alimentos e bolsa de valores do Enclave. Terças e quintas são "Dias de Feira", ainda que algumas partes da Cooperativa estejam sempre abertas. Mercadorias de luxo surpreendentes de todos os lugares do mundo (isentas de impostos, é claro) fazem do bazar um desconhecido Paraíso do Comprador; produtos eletrônicos, por exemplo, são mais baratos aqui do que em Hong Kong ou Singapura. A arquitetura do bazar é mal digna de nota, mas no meio do terreno há uma pequena mesquita pré-fabricada com adornos importada em partes do Paquistão via Brunei e montada aqui como O Centro de Estudos Esotéricos Sultão Pak Harjanto I (assim nomeado em homenagem ao mártir de 1907 que trouxe a magia javanesa para Sonsorol). Com todos os minaretes cor-de-rosa, barras verdes, branca e dourada como um bolo de aniversário de criança, com cobertura em alcaçuz de caligrafia árabe, a "Mesquita" é usada como um espaço para performances e salão para meditação pública. Cercada por um pequeno jardim de flores e árvores que dão sombra, é um agradável refúgio do calor e da poeira do bazar.

Outra característica divertida do bazar é O Muro do Grande Caractere (ou "Grande Muralha"), onde avisos, panfletos, poemas, xingamentos, pichações e "slogans com caracteres grandes" são pendurados e pintados — uma espécie de jornal gigante e imóvel. Uma feira de livros (venda, troca e compra) é realizada aqui às terças.

Por um quilômetro ao longo da praia a oeste das Favelas ficam As Academias, um agrupamento de comunidades e cooperativas dedicadas à educação e ao conhecimento, ocupando uma área de plantações de copra abandonadas. Parte da arquitetura é colonial restaurada (não muito interessante). O resto representa uma tentativa de criar um novo "vernáculo" sonsorolano fazendo uso de materiais tradicionais (palmeira, palha, coral) e os confortos da "tecnologia alternativa" proporcionados pelo Centro de Energia. Os prédios aqui têm os nomes de Ferrer (16), Goodman (17), Freire (18), Neill (19), Illich (20), Reich (21)... e as teorias educacionais praticadas derivam de seus ensinamentos. A pesquisa científica avançada é limitada, é claro, mas o acesso a computadores e financiamentos mais do que suficientes para certos projetos resultaram em um espírito de descoberta em — por exemplo — estudos de percepção extra-sensorial, matemática e física teóricas, genética e biologia (especialmente o campo de pesquisa morfogenética) e até mesmo um modesto observatório (que recebeu o nome do Príncipe Kropotkin [22]).

As crianças ocupam uma posição única em Port Watson. Acionistas desde o nascimento, elas são financeiramente independentes e nenhuma força moral ou legal as prende à sua "família" se elas quiserem viver sozinhas. Tanto nas Academias como em outros lugares do Enclave, comunidades de crianças de estilo polinésio são bem sucedidas sem a "supervisão de adultos". Elas escolhem os próprios cursos e pagam pelos conhecimentos especializados que desejem — ou então se empregam como aprendizes em algum ofício — ou então não fazem absolutamente nada senão brincar e se divertir. A liberdade sexual entre duas ou mais pessoas quaisquer que a consintam é normal em Port Watson. A infância sofreu uma mutação entre Maioridade em Samoa (23) e um jogo de utopia computadorizado. Felizes, saudáveis e desinibidos, mais sérios e mais selvagens que os suas equivalentes americanos ou europeus, eles às vezes parecem ter vindo de outro planeta... ainda que, ao mesmo tempo, seja óbvios que sejam os verdadeiros watsonianos.

7- Onde Ficar e Comer

Port Watson se orgulha apenas de uma hospedaria comercial, o White Flower Motel, na rua China, um prédio de dois andares com um pátio dirigido pelo próprio dono, um velho "adepto" do taoísmo, decano do corpo diplomático chinês da comunidade chinesa, o senhor Chang. Quarto simples custa 15 dólares a noite, duplo, 25. Visitantes "econômicos" encontrarão cabanas ou quartos para alugar nas favelas por apenas dois dólares por dia. E se tudo o mais falhar, o Banco mantém diversos quartos de hóspedes disponíveis (para financistas visitantes apenas, na teoria).

A rua China é o lugar para se comer, e Port Watson se qualifica como uma verdadeira "viagem gastronômica", como dizem os viajantes econômicos. O Yellow Turban Society – (24) é especializado na culinária de Pequim e da Mongólia. O Manchu Pretender (25) na de Cantão e de Hong Kong (o proprietário afirma ser o "príncipe herdeiro perdido" da China!) e o Cinnabar Immortal serve a culinária vegetariana taoísta/budista da mais alta qualidade.

Pequenos bares e restaurantes aparecem e desaparecem na Favela. Dois dos que mais duram são The Crowbar Club, cuja especialidade é frutos do mar, e uma barraca de hambúrguer chamada McBakunin’s! A Drogaria serve café e doces, entre outras coisas.

O Banco mantém uma lanchonete de estilo americano, que é barata e popular, apelidada de The Willie Sultan Bar & Grill (26). Os dias de feira no bazar também são dias de banquete, com inúmeros comerciantes vendendo tudo, de bolo de coco caseiro a trufas importadas.

8- Atividades Culturais e Espirituais

Não se passa uma noite em Sonsorol sem uma performance em algum lugar — música (clássica, gamelan e rock fazem sucesso), dança, teatro, poesia, etc. Fique atento ao Muro do Grande Caractere para ver os anúncios. Escultores e artistas exibem seus trabalhos em público, e por toda a ilha se tropeça em surpresas estéticas, obras de artes combinadas com a paisagem ou paisagem enquanto arte, objets trouvés (27) (achado não é roubado) e (em um caso específico) um Godzilla verde de plástico gigante de pé e sozinho na floresta. O Banco faz apresentações de filmes antigos à noite e de programas de TV "pirateados" de satélites. Poucos watsonianos têm televisores (muitos abstêm-se da eletricidade de forma geral), mas gostam de assistir de vez em quando no Banco, rindo nos comerciais. Alguns artistas trabalham em filmes e vídeos, e usam as instalações do Banco — que são de ponta.

Nesta sociedade em que as pessoas sempre têm tempo livre, os livros são considerados uma necessidade, e as publicações locais fazem um sucesso fora de proporção com a população. Esta cidade se orgulha de ter dois jornais semanais (um deles chamado Os Protocolos dos Idosos de Port Watson!), uma publicação mensal sobre arte, uma pletora de panfletos e uma produção pequena, porém estável, de livros (incluindo alguns no dialeto sonsoroleano) publicados por editoras com nomes imaginativos — Chthulu Press (28), New Rocking Horse Books, Fourth Eye Books, End of the World News & Stationary — e, é claro, uma Editora Pirata.

A espiritualidade pós-new age prospera no encrave. Cooperativas e comunidades com freqüência são organizadas com base em alguma Rumo ou terapia de vida. Uma lista parcial de tais organizações inclui: Wicca e outras formas de neo-paganismo (inclusive um renascimento tanto artificial do politeísmo sonsoroleano baseado em Castañeda, Lovecraft e Margaret Mead!), várias formas de taoísmo (tradicional e mágico, filosófico e alquímico e anarco-caótico), zen chinês, Igreja dos SubGênios, Templo de Eris, o Illuminati, "Anarquismo Místico", tantra e ioga, artes marciais chinesas e javanesas, especialmente tai chi e silat, vários círculos e ordens de Cerimonial Magick, inclusive um "Nova Aurora Dourada" e um "O.T.O. (29) Reformado", Igreja do Satã, a Escola Sabbatai Sevi de Judaísmo Mágico, o Si Fan ("uma conspiração devotada à subversão mundial e ao terror poético"), a Igreja Católica Gnóstica, o Templo do Ateísmo Materialista, Igreja do Príapo (30), e assim por diante. Uma das linhas espirituais mais populares em Sonsorol, incluindo Port Watson, é a chamada "Caminho Moro", uma combinação de esoterismo puro enraizado no kebatian javanês, no sufismo, xamanismo, mitologia hindu e islamismo heterodoxo. A "Mesquita" no bazar serve como um centro para grupos como Sumarah, a Escola da Invulnerabilidade, a "Igreja Moura Ortodoxa", a Academia de Meditação Moura, etc. (ver cidade de Sonsorol pra mais detalhes.) Reuniões, sessões, aulas, etc. são divulgadas na "Grande Muralha".

9- Vida Noturna & Recreação

Assim como os watsonianos criaram a sua própria "Favela", eles também têm o seu "bairro da luz vermelha" — não por nenhuma necessidade econômica, mas simplesmente porque apreciam a indolência e a imoralidade. Quando escurece, a rua Godown se transforma em um antro de perversidade e não fecha até o amanhecer. Os viajantes noturnos começam com uma refeição na rua China, seguem para o Cannibal Café para um café, de lá para Euphoria (um cassino), The Johann Most Memorial Dance Hall (31) (uma casa de rock), Bishop Sin’s Massage Parlor (a coisa mais parecida com um bordel em Sonsorol), The Unrepentant Faggot (um bar gay), Café Voltairine (um clube lésbico), Eat the Rich! (uma lanchonete noturna) e outras espeluncas de nomes criativos e vida curta. Esses clubes geralmente consistem em nada mais que uma área coberta caindo aos pedaços em um beco entre dois armazéns pintados com cores escuras e talvez ostentando uma placa de neon dadaísta? Visitantes, anotem: você não está exatamente arriscando a vida na rua Godown, mas nunca se sabe (digamos assim) o que há no ponche. Os watsonianos nunca precisam ansiar pela insanidade da vida nas grandes cidades: ela está toda concentrada aqui — sem um único policial para conter a loucura. Como diz uma pichação no banheiro (unissex) do Cannibal Café: "Após a meia-noite o Contrato Social está cancelado! (assinado) O Senhor da Desordem".

10- Excursão à cidade de Sonsorol

Um velho ônibus escolar, completamente reconstruído em bronze e cromo reluzentes, faz o mesmo percurso de ida e volta pela única estrada asfaltada de Sonsorol, do Bazar em Port Watson à capital da república, a cidade de Sonsorol. (Isto é, ele o faz quando se encontra alguém para dirigi-lo.) A estrada passa pela savana, a área rural mais povoada e cultivada da ilha, especialmente por famílias cristãs sonsoroleanas nativas, que apegam-se às "virtudes" do trabalho pesado.

A vida na república flui em um ritmo mis lento e mais conservador do que no livre encrave. Os nativos mais velhos se apegam as atitudes da Igreja Holandesa Reformada ou então seguem o Caminho Moro com toda a sua sutileza, boas maneiras, elitismo estético e "superstição mágica". A república não possui uma força policial, mas as pessoas tendem a se adaptar a certos costumes, pelo menos em público, e dentro de um contexto de uma integridade geral, descontraída e ao estilo polinésio. O visitante deve se lembrar de não ofender nenhum sentimento por um comportamento abertamente watsoniano (como foder em público).

A cidade de Sonsorol é até menor e mais sossegada do que Port Watson. O ônibus os deixa em uma rua empoeirada com lojas feias de fachadas de ferro ondulado ao longo da margem do rio. Em um extremo da Rua do Mercado fica o Hospital pequeno, porém ultra-moderno, o único prédio novo da cidade. No outro extremo fica a "Catedral Calvinista", na verdade uma igreja pequena e de estilo holandês um pouco indistinto construída em 1910 (o pároco é holandês e liberal. Ele prega "Tolstói, Thoreau e Gandhi"!)

A oeste da catedral fica o "Bairro Cristão", uma área de pequenos bangalôs tropicais/coloniais concentrados ao redor da Sede do Governo, o prédio da antiga administração colonial no estilo batavo "holandês-indonésio", com uma fachada levantada no estilo de Amsterdã, cor rosa-coral com teto de telhas vermelhas, onde se pode assistir a uma eventual sessão do Legislativo, e ouvir discursos delirantes e prolixos de todos os pontos de vista, do fundamentalismo protestante ao anarco-monarquismo místico. A Agência de Correio, um centro de computadores público e uma velha máquina de impressão manual constituem os únicos Órgãos do Estado, mas a praça em frente à Sede do Governo é sombreada de forma agradável e bastante freqüentada por aqueles que gostam de passear à noite e colocar as fofocas em dia.

Entre a Sede do Governo e o rio fica o Bairro Moro, onde as antigas villas batavas valem um passeio a pé. Os "aristocratas" moros são menos de duzentos, e não usufruem de mais nenhum privilégio fiscal em relação aos outros cidadãos — na verdade, a maioria deles se nega a trabalhar, e vive às custas de seus dividendos do Banco, modestos e avaros. Sua vida se concentra nos arredores do "Palácio" do Sultão, (na verdade, uma villa de doze cômodos), e a Mesquita do Sultão, um kraton (32) grande, mas simples de estilo javanês com um pátio coberto, cercada por villas adjacentes, oficinas e jardins.

O Sultão Pak Harjanto Abdul-Rahman Moro IV (nascido em 1945) pode ter renunciado todo poder, mas não todas as atividades. Sua fascinação tanto pela filosofia libertária, como pelo misticismo sonsoroleano tradicional o inspirou a criar diversas instituições culturais e educacionais estreitamente relacionadas, que se concentram ao redor da mesquita. A Corte Gamelan (uma orquestra javanesa de percussão importada no fim do século XIX e extremamente preciosa) encontra os seus músicos na Academia do Palácio das Artes e Ofícios Tradicionais. Ligadas a essas há duas escolas para crianças, uma para meninos e uma para meninas, cada uma com aulas de música, dança, arte e confecção de batique, mas em geral ignoram todo o resto. As crianças sonsoroleanas que queiram uma educação moderna podem freqüentar a "Escola do Governo", que é mista, ou uma das Academias de Port Watson. Mas aqui, tudo é antiquado, refinado, rebuscado, até um pouco decadente e perverso. Os alunos não se submetem a nenhuma disciplina tradicional, porém: eles são livres para ir e vir como quiserem, contanto que cumpram o seu "contrato" de estudar e realizar todos os concertos públicos semanais (todas as sextas-feiras, começando quando o sol se põe e durando às vezes até o amanhecer), que constituem o ritual central do Caminho Moro.

Junto com a Academia do Palácio e as duas escolas para crianças, a Mesquita também mantém uma oficina de batique, aulas de teatro e dança para amadores e aficionados, uma biblioteca de trabalhos sobre a cultura e a história sonsoroleanas, e sessões regulares de meditação em grupo. Também há aulas de artes marciais. O único jornal de Sonsorol, o mensal Court Gazette, também é publicado aqui e impresso na velha máquina da Sede do Governo.

As matrículas nessas instituições têm o mesmo número de "colonizadores" e "nativos". Alguns watsonianos se tornaram cidadãos da república para poderem morar e estudar na cidade de Sonsorol. As artes tradicionais e especialmente música são bastante apreciadas, particularmente pela nova geração de filhos de nativos que são descendentes de colonizadores. Talvez elas estejam se rebelando contra o anarquismo de seus pais através dessa paixão pelo gamelan e Ramayana (33), do uso de sarongues, batique e flores no cabelo, da imitação de gestos moros conservadores, e de um culto a pirataria e bruxaria.

Os ocidentais na cidade de Sonsorol ou moram perto da Sede e da Mesquita, ou ao longo da costa no antigo bairro holandês. Na ponta da Praia do Holandês encontra-se o Old Colonial Club, agora ocupado pelos dois únicos restaurantes de verdade de cidade: um dedicado à culinária nativa (The Corsair’s Cave) e outro à elegância da cozinha francesa (Chez Ravachol [34]) — ambos são caros. O Clube também oferece uma sala de jogos com "os únicos fliperamas de toda a Oceania". Ao longo da praia pra o oeste ficam as antigas villas holandesas, algumas em ruínas, outras habitadas por comunidades de colonizadores artistas, músicos e outros estetas que apreciam a vida tranqüila ou beber com os amigos na Corte.

Além da vida cultural da Sede e da Mesquita, nada mais acontece. Aqueles que querem "agito" vivem em Port Watson — aqueles que preferem a "falta de agito" em Sonsorol — e aqueles que gostam dos dois vão e voltam de um lugar ao outro, de acordo com o humor.

11- Outras Excursões

Do outro lado da Ponte do Garuda, vindo da cidade de Sonsorol, ficam as ruínas do Forte Espanhol, e uma aldeia de pescadores um tanto pitoresca que leva o mesmo nome.

Os três atóis de coral que ficam a alguns quilômetros de Sonsorol podem ser visitados com um barco ou canoa alugados tanto de Port Watson como da cidade de Sonsorol. Ngemelan é habitada apenas em temporadas, mas Ngesaba e Garap têm pequenas comunidades anarquistas (inclusive uma "tribo" de caçadores-coletores e uma colônia de nudismo!). Mergulhar, nadar, pescar e outros prazeres tropicais estão sempre presentes, e muitas pessoas preferem as praias de coral branco à areia vulcânica preta de Sonsorol.

Nos lados norte e noroeste da ilha, algumas aldeias agrícolas e comunidades rurais suportam calor e chuvas muito mais fortes para obterem uma privacidade quase total. O único modo de chegar até lá é de jipe ou a pé. Uma aldeia, New Canaan (35), é formada por calvinistas reacionários que odeiam tanto o anarquismo quanto o Caminho Moro, mas nunca recusaram os seus dividendos (não é recomendável ao visitante). Outra, Nyarlathatep, é a sede de um culto de magia negra (também não recomendável).

Na encosta do monte Sonsorol, a norte de Port Watson e dentro da fronteira do encrave ficam as enigmáticas ruínas monolíticas chamadas Nbusala, que calcula-se datar de antes da vinda dos piratas Moros. O mito popular a chama de "O Templo das Nuvens" e a associa com arcaicos mitos e lendas perdidos. Perto dali, a cachoeira mais alta da ilha dá mais encanto à área. A subida pela floresta úmida é exaustiva, mas o local é apreciado pelos artistas, iogues e neo-pagãos, que o consideram um "lugar de força", o coração vivo da ilha.

12. Como se tornar um morador

Sonsorol não tem turistas e tem alguns visitantes, e alguns destes últimos não conseguem ir embora. Os computadores do Banco estimam que a ilha poderia dobrar a sua população em cinco anos sem diminuir o dividendo médio e sem causar nenhuma superlotação, mas na verdade a taxa de crescimento é muito menor. Como um visitante pode se tornar um morador permanente?

Aqueles que possuem independência financeira podem simplesmente se estabelecer em Port Watson e fazer o que quiserem —desde que concordem em "assinar os Artigos". Para se tornar um acionista, no entanto, é necessário ser acolhido por uma comunidade ou sociedade já existente, ou então convencer um Sínodo Aleatório de que se pode oferecer habilidades ou serviços valiosos à comunidade. Propostas recentes bem sucedidas partiram de um oceanógrafo de Boston, uma italiana que estudou a arte das marionetes na Indonésia, um jovem extremamente belo de vinte anos de Belize, a tripulação de uma pequena chalupa que chegou com um equipamento de aparelhos eletrônicos vindo da Califórnia, alguns marinheiros malaios que decidiram abandonar os navios e cultivar abacaxi, um poeta irlandês que impressionou o Conselho ao improvisar em terza rima sobre os temas sugeridos por uma platéia, e um menino norte-americano de quatorze anos que fugiu da família em Guam e disse que queria estudar feitiçaria.

Para morar do lado de fora do livre encrave, é necessário, em teoria, tornar-se um cidadão da República de Sonsorol (embora esta "lei" não seja executada de forma muito rigorosa). Todos os cidadãos se tornam Acionistas automaticamente. Documentos são concedidos sem questionamentos a qualquer um que seja aceito em algum clã ou comunidade sonsoroleana, ou que seja contratado de forma específica para trabalhar para o governo (médicos, professores, etc.), ou ainda que seja aceito como aluno pelas Academias na Mesquita do Sultão. Caso contrário, deve-se fazer um requerimento ao Legislativo em vez do Sínodo Aleatório, e nem todos os pedidos são aceitos. Os documentos às vezes são concedidos em troca de um discurso divertido ou eloqüente, mas há rumores de que ligações na Corte podem contar mais do que uma personalidade interessante.

Com a exceção de alguns cristãos antiquados, os sonsoroleanos e os watsonianos vivem no que parece ser uma harmonia perfeita. O casamento entre pessoas dos dois lugares se tornou comum (com freqüência sem benefício de clero ou estado), e a geração mais jovem tem toda a beleza e vitalidade de uma raça nova.

O Caminho de Sonsorol pode ser possível apenas em uma ilha tropical, e alguns argumentam que esta qualidade de utopia libertária não pode ser transplantada para o mundo exterior. Porém, outros acreditam no contrário. Em um editorial (na Court Gazette de 10 de maio de 1985) o próprio Sultão escreveu: "Ninguém que ame a liberdade pode ouvir falar de Sonsorol sem saudades, inveja ou nostalgia de alguma coisa desconhecida, mas profundamente desejada... Sonsorol poderia ser criada em qualquer lugar — nada cria empecilhos a não ser a consciência e o poder inflexível daqueles governantes que se alimentam de consciências falsas como vampiros. Nós convocamos uma rede de Port Watsons a envolverem a Terra: um, dois, muitos, um número infinito de Port Watsons! Deixe que aqueles que nos invejam transmutem a sua frustração em raiva e insurreição, em uma determinação para usufruir da utopia agora, e não em alguma terra do nunca depois da morte ou da Revolução. Nós alcançamos aqueles que têm saudades de nós no "terceiro mundo" dominado pela pobreza, no "segundo mundo" asfixiado pela ideologia e no "ocidente" despedaçado pelas ilusões. E nós sussurramos a milhares de quilômetros de distância para dizermos a eles: 'Não percam a esperança: Port Watson existe dentro de vocês, e vocês podem torná-lo real'."

Notas:

1. Diaques - Povos do interior da ilha de Bornéu, na Malásia

2. Bugis - Povo marinheiro e comerciante, forma a maior parte da população da ilha de Célebes, na Malásia

3. Gamelan - Música folclórica da ilha de Java, essencialmente percussiva, graças à imensa quantidade de instrumentos de percussão, tanto de pele (o tambor que lidera a música, chamado kendang, além do bedug e bonang) quanto de metal (conjuntos de sinos e gongos, como kenong, kempul, gambag e sletem), mas também harmônica, devido à presença de instrumentos de corda (rebab, clempung) e flautas (suling). O gongo, instrumento hoje incorporado à música popular e erudita mundiais, tem sua origem (etmológica, inclusive) na cultura musical gamelan.

4. Haight-Ashbury - Famosa esquina em San Francisco que tornou-se epicentro da cultura hippie desde 1966.

5. Wanderjahr - Ano de viagens, em alemão.

6. Fundada nos Estados Unidos pelo casal transcendentalista George e Sophia Ripley, a Fazenda Brook é a comunidade experimental e utópica mais conhecida na história norte-americana. Batizado The Brook Farm Institute of Agriculture and Education, a comunidade existiu entre 1841 e 1847, em West Roxbury, Massachussets.

7. Método indonésio de estamparia de tecidos em que a cera é aplicada no tecido para evitar que algumas partes sejam tingidas, popular no Ocidente nos anos 60 e 70.

8. Caveat emptor - Cuidado, comprador.

9. Potlatch - Troca de presentes, costume típico dos índios nativos da costa oeste norte-americana

10. As bicicletas gratuitas pintadas de branco são referência ao grupo anarquista holandês Provos.

11. Clássico de Joseph Conrad, O Coração das Trevas descreve a jornada de um oficial inglês à procura do desertor Comandante Kurtz, que transformara um entreposto comercial no Congo em uma assustadora colônia particular; o livro é a base para o filme Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola.

12. Tombstone - Cidade do Arizona, nos EUA, que nos anos 1880 se tornou ponto de convergência de mineiros, aventureiros e foras-da-lei, devido a uma rica mina de prata. Conhecida como "a cidade dura demais para morrer", foi personagens do velho oeste americano, como Wyatt Earp, Doc Holiday e John Ringo.

13. Godown - Alteração em inglês para a palavra malaia godong, que significa galpão portuário.

14. A expressão "comedor de lótus" vem de um conto homônimo (The Lotus Eater) do inglês W. Sommerset Maugham ("o escritor mais bem pago dos anos 1930", como era conhecido), em que seu protagonista, o bancário inglês Thomas Wilson abandona toda sua vida após conhecer Capri, no sul da Itália, dedicado a viver apenas a excitação da natureza do lugar.

15. Buck Rogers - Série de TV de ficção científica dos anos 50.

16. O espanhol Francisco Ferrer (1861-1909) foi uma das primeiras pessoas a questionar o monopólio da educação pela igreja ou pelo estado. Concebeu o conceito das Escolas Livres, a Escola Moderna e a Universidade Popular, que levaram ao sucesso das idéias anarquistas frente aos trabalhadores durante a Semana Trágica, em 11 de julho de 1909 (quando a classe operária se revoltou contra o governo que declarava guerra ao Marrocos). Ferrer foi executado como um dos líderes do levante.

17. O norte-americano Paul Goodman (1911-1972) era poeta, escritor e comentarista até que a crise da meia-idade o abalou em plena época de vacas magras, levando-o a explorar outros temas para sobreviver. Foi assim que encontrou o judeu alemão Fritz Perls, com quem escreveu Gestalt Therapy, passando a dedicar-se à crítica social. Assim, publicou seu mais famoso livro, Growing Up Absurd (1960), que questionava a autoridade das instituições e foi mais tarde usado como manifesto contra a Guerra do Vietnã.

18. O brasileiro Paulo Freire (1921-1997) é um dos grandes pedagogos da história contemporânea e obras como Pedagogia do Oprimido, Vivendo e Aprendendo e A Importância do Ato de Ler são referências internacionais.

19. O inglês Alexander Sutherland Neill (1883-1973) foi um dos principais críticos do sistema britânico de educação e fundador da escola livre Summerhill School, onde as crianças escolhiam os critérios que queriam ser avaliadas.

20. O austríaco Ivan Illich (1926-2002) é considerado o pioneiro da Teologia da Libertação e seus grandes feitos incluem o clássico Sociedade Sem Escolas e seu trabalho junto às comunidades latinas nos anos 60 e 70. Fundador do Centro de Documentação mexicano (tido como refúgio para guerrilheiros clandestinos), formulou o conceito da Aliança para o Progresso, através da qual postulava que o nível de desenvolvimento de um país poderia ser medido de acordo com o grau de escolaridade de seu povo.

21. O austríaco Wilhelm Reich (1897-1957) era sócio de Freud Policlínica Psicoanalítica de Viena, mas logo rompeu com seu professor e com o movimento da psicoanálise. O nazismo o obrigou a deixar a Europa e, instalado em Nova York, passou a desenvolver sua teoria da energia orgone, que, segundo Reich, é um fenômeno universal e é liberado através da atividade sexual. Ele advogava que o acúmulo desta energia era responsável pelas neuroses individuais, movimentos sociais irracionais e desordem neurótica coletiva. Criou um dispositivo chamado Caixa Orgone, para aliviar tal energia, que foi declarado fraude pelo governo americano. Ao continuar suas pesquisas com o aparelho, foi intimado e sentenciado à prisão, onde morreu.

22. De ascendência nobre, o russo Peter Alexeyevich Kropotkin (1842-1912) passou a freqüentar a corte do czar Nicolau I ainda menino, quando foi escolhido pelo próprio para ingressar no Corpo dos Panges, se interessando por ciência. Depois de estudar a Sibéria, abraçou a geografia e deixou a corte e a vida militar para tornar-se um dos principais nomes da história anarquista. Fundou o jornal Le Révolté na França e escreveu seus principais livros (A Conquista do Pão, Ajuda Mútua, Memórias de um Revolucionário e Campos, Fábricas e Oficinas) na Inglaterra. Voltou à Rússia com a revolução de 1917, mas desiludido com a ditadura bolchevique, dedicou os últimos anos de sua vida à obra Ética, que ficou inacabada. A essência da pesquisa científica está presente em seus principais textos.

23. Maioridade em Samoa (Coming of Age in Samoa), publicado em 1928, é um dos polêmicos livros da antropóloga norte-americana Margareth Mead e trata das relações entre sexualidade, adolescência e sociedade.

24. A sociedade dos turbantes amarelos era um grupo de revoltosos sanguinários chineses que, no final da Dinastia Han (150 d.C.), se posicionou como vanguarda da história, disposta a aniquilar o poder vigente de forma violenta e iniciar uma nova era.

25. Depois de invadir a Manchúria, em 1931, o Japão transforma-a em um estado-fantoche, Manchukuô, e coloca o último imperador chinês, Pu Yi, como líder e testa-de-ferro.

26. Famoso ladrão de bancos norte-americano, Willie Sultan (1901-1980) fez fama nos anos 30 como assaltante gentleman e mestre dos disfarces. Sua famosa explicação sobre porque assaltava bancos ("porque é ali que está o dinheiro") foi citada neste mesmo texto pouco antes de Pak Harjanto Abdul-Rahman IV e Travis B. O’Conner decidirem-se pelo ramo banqueiro.

27. Objets Trouvés (objetos encontrados, em francês) é o nome de um ramo do surrealismo e do dadaísmo que lida com, obviamente, objetos encontrados como matéria-prima para, principalmente, escultura. Marcel Duchamp e Man Ray são alguns dos principais nomes desta escola.

28. Chthulu é o protagonista (um monstro verde, gigantesco, com cabeça de lula, garras e asas de morcego) do universo de horror do autor H.P. Lovecraft.

29. A Ordo Templi Orientis reúne tradições dos Cavaleiros Templários, Iluministas, Rosa-cruzes, Maçons, e os medievais Cristianismo Gnóstico e Escola de Mistério Pagão. A base da ordem é O Livro da Lei, de Aleister Crowley.

30. Na mitologia greco-romana, Príapo era filho de Afrodite (deusa do amor) e de Dionísio (deus do vinho) e foi deformado ao nascer por Hera, que tinha ciúmes de sua mãe; sendo representado como um indivíduo grotesco e com um pênis gigante.

31. "Não é mais a aristocracia e a realeza que o povo pretende destruir... Não; no ataque próximo o objetivo é entregar toda a classe média à aniquilação... Exterminar toda a espécie desprezível! A ciência agora coloca em nossas mãos meios que tornam possível a destruição completa dos brutos de uma maneira perfeitamente quieta e metódica", dizia o anarquista alemão Johann Most (1846-1906), um dos principais teóricos do assunto nos EUA. Lá, ele escreveu o panfleto The Science of Revolutionary Warfare: a manual of instruction in the use and preparation of Nitro-Glycerine, Dynamite, Gun Cotton, Fulminating Mercury, Bombs, Fuses, Poisons, etc, etc. em que saudava o terrorismo.

32. Kraton, o "Palácio do Onipotente, é o famoso e tradicional palácio do sultão de Jacarta, na Indonésia.

33. Um dos mais belos poemas épicos da humanidade, o Ramayana foi escrito pelo sábio Valmiki há dois mil anos e é um dos principais textos do Sul da Ásia. Conta a história do príncipe herdeiro Rama e é cheio de reflexões sobre os aspectos da cultura indiana, sendo influência decisiva na política, religião e arte da Índia moderna.

34. O anarquista francês François Ravachol (1859-1892) era outro que advogava o terrorismo e é conhecido por sua famosa frase, "ninguém é inocente".

35. Canaã é a Terra Prometida, na Bíblia.

* Texto Anônimo

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

repassando...

GRITO DOS EXCLUÍDOS

VIDA EM PRIMEIRO LUGAR: A FORÇA DA TRANSFORMAÇÃO ESTÁ NA ORGANIZAÇÃO POPULAR!



Dia 7 de setembro às 9hs, na Av. Presidente Vargas

(concentração na esquina com a rua Uruguaiana)



O Grito dos/as Excluídos/as, em sua 15.ª edição, traz para as ruas a indignação dos trabalhadores contra os efeitos da crise econômica e as demissões, por emprego e melhores salários, pela manutenção dos direitos e pela sua ampliação, por Reforma Agrária e Reforma Urbana Já, em defesa dos nossos recursos naturais (O petróleo tem que ser nosso!), contra a corrupção e a impunidade e contra a criminalização da Pobreza e dos dos movimentos sociais.

Assim, trabalhadores e trabalhadoras de todo o país pretendem anunciar, em di­ferentes manifestações populares, os sinais de esperança, através da unidade, da organização e da luta popular, e denunciar todas as formas de injustiça que, em nosso país, causam a des­truição e a precarização da vida do povo e a destruição ambiental em todo o planeta.

Vamos fazer uma bela caminhada e no encerramento teremos apresentação de diversas manifestações culturais da classe trabalhadora.



Venha participar!

Traga sua bandeira de luta!