terça-feira, 2 de junho de 2009

Das Drogas

Num certo dia vou assistir a uma palestra sobre a 'Marcha da Maconha' e, como não podia deixar de ser, boa parte da comunicação não se limitou apenas legitimar a passeata, mas também visou defender a necessidade de legalização das drogas ilícitas. Eu pessoalmente não sou um consumidor regular ou irregular de entorpecentes. Já tentei ser na minha pré-adolescência, mas não deu muito certo, então abandonei a tentativa. Mas tenho muitos amigos que se mantém fiéis aos seus baseados e simpatizo com a causa, por assim dizer. Isso, porém, não era o que queria falar.

Se alguém já assistiu a alguma dessas defesas da legalização, vai reparar que uma longa série de argumentos são sempre elencados. Dessa vez, os caras falaram das propriedades medicinais da maconha e como ela poderia aliviar a dor dos doentes terminais. Falaram das propriedades nutricionais e como o leite de maconha tinha sei lá quanto de sei lá o quê. Falaram dos usos da maconha para a produção de roupas e papel. Posso estar enganado mas acho que quase ouvi eles falaram da maconha com combustível vegetal. Quem sabe daqui a pouco poderemos ter carros movidos a maconha e em vez da OPEP e um cara de turbante ditando o preço do combustível, nós vamos ter um Rastafari sentado na OMC defendendo a manutenção do preço da cannabis no mercado internacional? Do jeito que os caras falam parece que a maconha é a panacéia do mundo. Vamos legalizar a erva e tudo será lindo e verde.

Aqui eu tenho dois problemas. O primeiro é que essa barboseira toda apenas se aplica à maconha. O rapaz que se pica ou curte uma carreirinha continua na mesma, pois a sua droga não vira camiseta a favor do meio ambiente nem creme de beleza. O segundo é que esses argumentos não persuadem ninguém ou ao menos assim me parece.

Pensa que você é um cara anti-drogas normal. Acha que as drogas não devem ser legalizadas pois são imorais, pois por causa delas há violência e coisas ruins, pois foram eles que fizeram com que sua filha engravidasse aos 16 e seu filho se prostituisse por um Playstation 3 (as drogas fizeram isso, nunca a sua existência estúpida e completa falta de tato pedagógico no trato com os infelizes), pois foram elas que fizeram com que você sem querer acordasse um dia pelado ao lado de um travesti (e não seu desejo reprimido de ser vocês sabem o que) e quais uma outra série de motivos. Tá, talvez esse cara não seja tão normal assim, mas pode esquecer o que disse acima e pensa no teu avô reacionário ou naquele colega de escola ou faculdade.

Pois bem, esse cara, por algum motivo qualquer, vai nesta palestra e vê aquela platéia (que vocês sabem como é) e vê os palestrante (que vocês sabem como são) e o que vocês acham que ele pensa? Mesmo que ele ouvisse este discurso sem estar cercado por um monte de jovem com cara de doidão (como normalmente é o caso), mesmo que ele lê-se num folheto entregue por uma moça vestida de colegial católica, o que ele provavelmente pensaria? Minha opinião é que pensaria: "Essa cambada de maconheiro que me empurrar esses argumentos bonitinhos e científicos, mas sei que no fundo eles querem mesmo é puxar um! Legalizar porra nenhuma!" Vocês acham que não?

Acham que teu avô vai se sensibilizar com usos da maconha no tratamento do glaucoma só porque ele é velho e pode ter glaucoma? Acham que o cara vidrado em saúde vai mudar de opinião por causa das propriedades nutricionais da maconha ou qualquer outra coisa? Claro que não! Se fosse uma questão de argumentos científicos quebrando barreiras de ignorância, a batalha já estaria ganha. Por sinal, se isto funcionasse não teríamos metade dos problemas que temos. Ao menos eu não teria metade dos problemas que eu tenho.

Não adianta tentar agradar todo mundo com uma montanha de pseudo-razões científicas. Sinceramente, quem puxa o movimento a favor da legalização é quem quer poder fumar o bagulho em paz sem preocupação. E não há nada de errado nisso! Claro que quem defende sabe que não tem nada de errado, mas parece que às vezes quer se esconder por detrás de uma motivação que não é o principal motor da luta e o outro lado sabe disso. Os caras são burros, mas nem tanto. Eles sabem que no fundo o que a galera quer é dar um tapinha, portanto o argumento da moralidade nunca vai ser derrubado pelo fato da maconha virar insumo industrial. Afinal, basta que se legalize para uso como matéria-prima industrial e não se legalize para o consumo mais importante, como de fato já acontece em alguns lugares.

A questão principal é: você deve poder fumar, injetar, cheirar, laber, chupar, queimar, ou qualquer outro verbo, qualquer substância que você queira, pois ninguém tem o direito de lhe dizer o que pode fazer ou não com seu próprio corpo. Quem é o Estado ou o deputado tal para me impedir de tomar bala na rave? Ou doce antes daquela trepada foda? Ou uma carreira antes da noitada da madrugada? Ou um dois antes de ter que enfrentar aquele patrão mala? O corpo é meu e posso destruí-lo como bem quiser. Se posso me entupir de McDonalds, Coca-Cola e gordura hidrogenada minha vida inteira, porque não poderia gastar um dia da mesma para ficar doidão de ácido? Que eles enfiem essa falsa moralidade no lugar apropriado.

Não é para defender a legalização das drogas por que o estudo científico tal disse que a droga tal serve como solvente para tinta, pois todo mundo sabe que a luta pela legalização é luta para se poder ficar alterado com substância agora ilícita sem encheção de saco. Paremos de hipocrisia.

Ficou meio confuso e dessa vez não consegui fazer muito piada, mas acho que era isso aí. Em suma, se você defende a legalização, o faça pelo motivo que lhe move, que muito pouco provavelmente é pelo fato da maconha dar um ótimo tônico capilar ou da cocaína desentupir os canais respiratórios.

6 comentários:

Lara disse...

Concordo que muitos argumentos, sejam verdades ou não, não são os reais motivos da luta pela legalização, o que acaba por tornar esse discurso hipócrita...
Mas quanto aquilo de que podemos fazer o que quisermos com nosso corpo, acho que não é bem por aí, já que isso pode afetar outras pessoas, no caso das drogas, o fato de que em uma privação de sentidos possa se fazer mal a alguém, tornando isso um problema público e não mais pessoal.

Anônimo disse...

É bem isso mesmo. Quer ficar doidão diz logo... Ficar enrustindo pra quê?

Concordo inteiramente com a combinação texto + comentário acima.

Abraço, meu caro.

Diogo disse...

Pois é, eu não concordo inteiramente com a combinação, rs. Acho necessário fazer algumas observações. qualquer conduta que afete às outras pessoas, ou melhor, que lesione direitos de outras pessoas, deve ser coibida. O Direito Penal trabalha com o princípio da lesividade, ou seja, o comportamento deve lesionar ou causar risco de lesão para que o sistema-jurídico penal atue. Não se pode proibir uma conduta pela mera suposição de potencialidade. Uma pessoa pode ingerir droga e cometer crimes; pode ingerir droga e não cometer crimes, e pode não ingerir e cometer crimes. Enfim, não necessariamente a droga te levará a causar uma lesão em qualquer bem jurídico que seja. Por isso não acho justa uma privação de liberdade desse tipo. Qualquer um pode fazer o que quiser com o corpo e ninguém pode causar lesão a direito alheio, estando drogado ou não.

Anônimo disse...

Em tempo:

A criminalidade toma conta da cidade
A sociedade põe a culpa nas autoridades
Um cacique oficial viajou pro Pantanal
Porque aqui a violência tá demais
E lá encontrou um velho índio que usava um fio dental
E fumava um cachimbo da paz
O presidente deu um tapa no cachimbo e na hora
De voltar pra capital ficou com preguiça
Trocou seu paletó pelo fio dental e nomeou
O velho índio pra ministro da justiça
E o novo ministro chegando na cidade,
Achou aquela tribo violenta demais
Viu que todo cara-pálida vivia atrás das grades
E chamou a TV e os jornais
E disse: "Índio chegou trazendo novidade
Índio trouxe o cachimbo da paz

Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça

Todo mundo experimenta o cachimbo da floresta
Dizem que é do bom, dizem que não presta
Querem proibir, querem liberar
E a polêmica chegou até o congresso
Tudo isso deve ser pra evitar a concorrência
Porque não é Hollywood mas é o sucesso
O cachimbo da paz deixou o povo mais tranqüilo
Mas o fumo acabou porque só tinha oitenta quilos
E o povo aplaudiu quando o índio partiu pra selva
E prometeu voltar com uma tonelada
Só que quando ele voltou "sujou"!!!
A polícia federal preparou uma cilada
"O cachimbo da paz foi proibido, entra na caçamba vagabundo!
Vamô pra DP! Ê êê! Índio tá fudido porque lá o pau
Vai comer!"

Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça

Na delegacia só tinha viciado e delinquente
Cada um com um vício e um caso diferente
Um cachaceiro esfaqueou o dono do bar porque ele
Não vendia pinga fiado
E um senhor bebeu uísque demais, acordou com um travestí
E assassinou o coitado
Um viciado no jogo apostou a mulher, perdeu a aposta
E ela foi sequestrada
Era tanta ocorrência, tanta violência que o índio
Não tava entendendo nada
Ele viu que o delegado fumava um charuto fedorento
E acendeu um "da paz" pra relaxar
Mas quando foi dar um tapinha
Levou um tapão violento e um chute naquele lugar
Foi mandado pro presídio e no caminho assistiu um
Acidente provocado por excesso de cerveja:
Uma jovem que bebeu demais atropelou
Um padre e os noivos na porta da igreja
E pro índio nada mais faz sentido
Com tantas drogas porque só o seu cachimbo é proibido?

Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça

Na penitenciária o "índio fora da lei"
Conheceu os criminosos de verdade
Entrando, saindo e voltando cada vez mais
Perigosos pra sociedade, aí, cumpádi, tá rolando
Um sorteio na prisão pra reduzir a super lotação
Todo mês alguns presos tem que ser executados
E o índio dessa vez foi um dos sorteados
E tentou acalmar os outros presos:
"Peraí..., vamo fumar um cachimbinho da paz"
Eles começaram a rir e espancaram o velho índio
Até não poder mais e antes de morrer ele pensou:
"Essa tribo é atrasada demais...
Eles querem acabar com a violência,
mas a paz é contra a lei e a lei é contra a paz"
E o cachimbo do índio continua proibido mas se você quer comprar é mais fácil que pão
Hoje em dia ele é vendido pelos mesmos bandidos que mataram O velho índio na prisão

Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça

Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Sente a marisia
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Sente a marisia, acende, puxa, prende, passa, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola

Anônimo disse...

Ah, esqueci:

Cachimbo da Paz
Gabriel Pensador

Antonio Bastos disse...

Não acho que os palestrantes sejam assim exóticos, ainda mais hoje em dia que temos delegados (Orlando Zacone, por ex), procuradores, e outros "normais" e até "caretas" defendendo a legalização das drogas.

Não acho também que quem "puxa o movimento" seja necessariamente o cara que quer fumar um e ponto. Existem sim esses casos e, com a Globo e FHC's da vida entrando na onda, vão crescer ainda mais. A principio nada de errado, que venham! Só não posso aceitar que cheguem com aquele discurso de se "legalizar" o usuario e "criminalizar" ou demonizar ainda mais o "traficante" (leia-se o favelado), muitas das vezes decorrentes de uma visão limitada ao enfoque individual.

Entretanto, existe todo um movimento que vem da criminologia critica e defende a legalização não só por motivos individuais, mas por uma questão de direitos humanos. Que entendem que a guerra as drogas é um disfarce, uma mascara ideologica (no sentido pejorativo da palavra) para uma guerra direcionada aos pobres. Que vê na historia da criminalização das drogas uma tentativa de criminalizar e controlar certos segmentos da população (Por ex na criminalização da maconha nos EUA da decada 30, num contexto de depressão e desemprego em massa, quando a imensa maioria dos fumantes estava restrita a mexicanos e negros).

No mais, meus parabéns pelo Blog e pelo textos!