segunda-feira, 11 de maio de 2009

Os muros da discórdia

Abaixo nota assinada por movimentos sociais e organismos de Direitos Humanos

NOTA: CONTRA O APARTHEID DOS MUROS CARIOCAS

Foi na década de setenta do século passado, durante o apartheid racial na África do Sul, que nasceu a idéia de utilizar veículos blindados para gerir o controle de populações urbanas. Chamado de “Yellow Mellow”, este blindado, que hoje se encontra no Museu do Apartheid, se tornou referência mundial para as estratégias de militarização de áreas urbanas segregadas, inspirando, em conseqüência disso, a ascensão da atual “política caveirão” por parte das autoridades públicas brasileiras.

Se o “Caveirão” é hoje o grande emblema do modelo militarizado de segurança pública que vem encharcando de sangue favelas do Rio de Janeiro, o recentemente anunciado projeto de levantamento de 11 quilômetros de barreiras de concreto no entorno de 11 comunidades é um sintoma claro do processo de criminalização da pobreza que vem permitindo afirmar a figura legitimadora da “vida descartável”. Além de muros de 3 metros de altura, o Governo do Estado pretende erguer muros "virtuais": um sistema de monitoramento com imagens de satélite para fiscalizar os espaços populares. O argumento oficial é a contenção da devastação da Mata Atlântica pela expansão das favelas, com os muros recebendo o nome de “ecolimites” – uma jogada macabra que utiliza uma bandeira ambiental para legitimar estratégias que reforçam a atual lógica do apartheid social.

No último sábado, dia 25 de abril, foi realizado um plebiscito pela associação de moradores da Rocinha para consultar a opinião da população sobre o projeto dos muros nas favelas. Na votação, a obra foi rejeitada por 1.056 pessoas. Apenas 50 votaram a favor e cinco anularam o voto. Ao tomar conhecimento da pesquisa, o prefeito Eduardo Paes não titubeou em classificar o resultado como “suspeitíssimo”, buscando deslegitimar o plebiscito usando a velha tática de criminalizar as organizações populares das favelas. Assim também foi a repercussão dada à correta deliberação da FAFERJ – Federação das Associações de Favela do Estado do Rio de Janeiro – que rechaça a suspensão dos muros.

As entidades de Direitos Humanos, militantes sociais e pessoas preocupadas com os claros indícios e sinais de cristalização de segregação social, vem a público se manifestar em apoio à posição da FAFERJ e se comprometem em lutar, juntos, contra toda forma de criminalização da pobreza e dos movimentos de resistência. CONTRA O APARTHEID CARIOCA: NÃO AOS MUROS!

3 comentários:

Diogo disse...

Em respeito ao princípio do contraditório posto aqui uma resposta de uma amigo sobre a nota.

"Não sei não, heim?

Sem entrar no mérito do muro propriamente, só sei que isso é uma briga da favela e de seus moradores. Sinceramente, não vejo porque o pessoal do direitos humanos quer se meter nisso. O muro diz respeito a política urbana. Não tem nada de apartheid nisso, até porque não estão fechando os acessos da favela, mas apenas os entornos que dão pra mata.

A galera dos direitos humanos sabe que tem muita gente apoiando a construção do muro e mesmo assim se mete em briga que não diz respeito a suas atividades. Parece que fazem de tudo pra arrumarem rivalidades essas entidades. A troco de quê? Como não sei quem dirige tais instituições, pensaria imediatamente que elas visam apenas poder político através do apoio dos moradores da favela, o que, parece-me, não contribui muito para a causa dos direitos humanos em si.

Talvez a opção de construir um muro tenha sido equivocada do ponto de vista da proteção ambiental ou da contenção da favela. Isto pode se questionar. Agora, forçar um apartheid é dose... Em vez de aproveitar a oportunidade pra levantar um debate sobre as condições da favela, sobre o que leva a favela a se expandir, sobre o que leva a criminalidade a se alojar nas favelas, preferem inventar um discurso de apartheid pra bater de frente com o governo e fortalecer a causa contra o caveirão.

É o que argumentei há algum tempo atrás. Os movimentos sociais e de direitos humanos adoram falar para si mesmos. Em vez de usar uma linguagem tão apolítica quanto possível para levantar apoio popular de todas as classes e credos, não: preferem discursar pros velhos ouvintes, e nada de trazer mais gente pra causa. Até parece que quem não é morador de favela vai acreditar nessa de apartheid, com raras exceções.

Se, por um lado, não acredito no governo e no seu discurso oficial, por outro essas entidades de direitos humanos cada vez mais perdem crédito comigo. Não que EU seja relevante para a opinião popular, mas acredito que tenha mais gente pensando de maneira similar a mim.

Sei que você não concorda comigo, mas é o que penso, pelo menos neste momento.

Abraços!"

brunofaria disse...

a segregacao espacial é uma estratégia antiga... nao é mérito carioca...
com muros ou sem, as cidades, perversamente, jogam para a periferia um enorme contingente de pessoas que são obrigadas a ocupar, por vezes ilegalmente, zonas desvalorizadas da cidade.
a questao dos muros agrava esta situacao.. e a torna evidente. Tbm concordo q é exagero pensar em apartheid, pois este aconteceu em condicoes totalmente diferentes de tempo, espaco, ideologia, etc. Porém é preocupante pensar q para resolver o crescimento da favelização no rio a primeira opcao seja construir um muro. Parece solucao de crianca! mas há mt simbolismo por tras disso. O fato de querer conter fisicamente a favelizacao denota uma preocupacao estética e elitista.. para "proteger" os bairros nobres da cidade. em nenhum momento se pensou nas causas da favelizacao... em melhoras estruturais... o maoir esforco intelectual q tiveram foi procurar o npumero do pedreiro.

CHRISTINA MONTENEGRO disse...

Muros foram inventados para ser derrubados...
Um dia virão os Prijetos de TRILHAS...
BJS!