quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal para quem?

Escrevi esse texto às pressas a pedido de um amigo, após uma conversa sobre o assunto. Tinha que ficar pronto para hoje, por razões óbvias. E posto aqui o que consegui fazer. Espero ter sido coerente. O Natal é um tema complexo; inicialmente existiam festas pagãs nesse período do ano e a igreja as transformou em festas religiosas por motivos estratégicos, e incluíram o nascimento de Jesus para que fosse comemorado. Hoje quando todos brindam o natal, pouca gente se lembra de seu real significado, até mesmo entre os que se dizem cristãos. Esse blog deseja a seus poucos leitores um feliz natal, desejamos que a história do Jesus libertário seja lembrada em outras épocas do ano em 2009, e não somente no dia 25. Para os que não comemoram o natal, desejamos muita diversão e alegria...


Segue pequeno texto:

A grande festa do consumo tem mais uma edição. A festa pagã que se transformou em festa religiosa e virou novamente pagã, hoje tem como seu maior símbolo o Papai Noel, que desfila pelas cidades e fotografa nos Shoppings. Natal e Shopping, aliás, é a combinação perfeita; não há período do ano em que os mercadores lucrem tanto. É o lado Coca-cola do Natal.

O nascimento de Jesus, premissa mentirosa para as comemorações já caiu no esquecimento, como era de se esperar. A história de Jesus, aliás, foi deturpada desde seu berço. O Homem feio e humilde se transformou num galã de cinema louro e de olhos azuis; o Jesus “americanizado” é hoje de igual forma o símbolo da prosperidade apregoada pelas igrejas “neopentecostais”, cuja doutrina se alastra para as demais denominações. O nascimento de Jesus é o acontecimento que dá mais lucros aos mercadores que ele mesmo expulsou do templo de Jerusalém.

Nesse momento, o Jesus revolucionário, que contestou doutrinas e leis, que foi contra o sistema e a autoridade vigente, que criticou o acúmulo de bens materiais e que defendeu os pobres e oprimidos, ficou para trás. O Jesus da religião é esse que nasce em dezembro e morre em Abril.

Muitos correm para se adequar as exigências da cultura, o problema é que muitas vezes a cultura impõe, mas a economia proíbe.

No mundo, um bilhão de pessoas sobrevive com menos de um dólar por dia, e 2,7 bilhões com o equivalente a dois dólares. A solidariedade que sobra nessa época do ano falta nos dias restantes. O jovem rico que foi conversar com Jesus não saiu muito contente. Ele afirmava que sabia tudo da palavra, que seguia os mandamentos, e perguntou o que lhe faltava. Jesus então respondeu dizendo para que ele dividisse tudo o que tinha com os pobres; o jovem vendo que tinha muitas propriedades saiu desolado.

A bíblia é clara quando diz que não se deve ajuntar tesouros na terra; e que, ai daquele que ajuntar casa sobre casa e terra sobre terra, até que seja o único dono do lugar. Temos Deus como um grande aliado pela reforma agrária e urbana; pena que a igreja seja contra.

O Jesus de hoje perde em importância até para o coelhinho da páscoa; logo o homem ao qual João Batista se dizia indigno de carregar as sandálias; e João que foi um personagem de importância tamanha, vivia no deserto, vestia roupas feitas com pêlos de camelo e comia gafanhotos com mel; bem diferente dos sumo sacerdotes que viviam no templo, vestiam as melhores roupas e comiam do bom e do melhor. Dou uma bala para quem adivinhar com qual deles Deus falava. E por quem Jesus foi batizado.

Que o espírito solidário sobreviva com ou sem natal.

3 comentários:

Mauro Sérgio Farias disse...

É meio complicado falar em espírito de Natal nesses tempos de consumismo desenfreado. Sem falar nos massacres que Israel promove lá pelas bandas de onde nasceu Jesus.

Que tenhamos um 2009 com força pra lutar e virar o jogo.

Saudações!

Liza disse...

Ainda é bom ver que essa consciência existe.
Natal agora é interpretado como oportunidade para encher a cara e comer como um porco.
Acho engraçado como os pais ficam preocupados em preservar a fantasia do Papai Noel em seus filhos, mas poucos contam que não é o bom velhinho quem faz aniversário nessa data.

Diogo disse...

Obrigado pelos comentários.

Realmente, Rafa, somos pressionados desde o nascimento; pela nossa família, pelas regras de comportamento impostas socialmente, etc... escapar dos modelos não é muito simples...

Ainda sobre o natal, o foda é ver essas campanhas de natal, como “Natal sem fome”, “Natal sem frio”...que quer dizer mais ou menos o seguinte: Você pode sentir fome e frio o ano todo, mas no Natal não... Que puta hipocrisia.